Militares já registaram meia centena de autos. Distrito de Braga entre os que mais preocupam.
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Custódia Aleixo estava atarefada no seu quintal, entre limpezas de ervas e outra vegetação, quando viu uma equipa da GNR de Braga. Os telemóveis ao alto, que captavam uma mancha florestal que não foi limpa em tempo útil, deixaram a ex-emigrante em sobressalto, mas por poucos minutos. Assim que os guardas se apresentaram, logo viu uma oportunidade para reforçar a inação do dono dos terrenos vizinhos.
O comandante do destacamento de Braga em suplência, Mário Ferreira, o guarda principal Marco Gaspar e os cabos Luís Barros e Carlos Mota já tinham registado o problema e avisado o proprietário a 11 de março, numa das rondas da campanha Floresta Segura passaram no local, na freguesia de Crespos. Agora, foi só avançar com a contraordenação por desrespeito da lei.
Depois de um período de sensibilização, até 15 de maio, as autoridades já arrancaram com ações de fiscalização por falta de gestão de combustível. A nível nacional, só na primeira semana, foram elaborados "12 autos de contraordenação nos distritos de Coimbra, Leiria, Aveiro, Santarém e Viana do Castelo", adiantou, ao JN, o porta-voz da GNR, tenente-coronel João Fonseca. Até ao dia 31, somaram-se 51 autos.
"Fico contente com a presença da GNR. Andava preocupada, porque há anos que ando a pedir para o dono cortar as árvores e nada", afirma Custódia Aleixo, virada para os guardas, que, ao mesmo tempo, a alertam para a sua própria ação. "Se pretende queimar os sobrantes do quintal, avise a Junta ou a Câmara, senão pode ser autuada", atira o comandante, convencido de que existe "uma maior consciencialização das pessoas para a preservação do património florestal, mas também para a sua própria segurança".
Mais de 14 mil locais
No âmbito da campanha Floresta Segura deste ano, a GNR realizou, no país todo, 9982 ações de sensibilização para alertar sobre a importância da gestão de combustíveis "como medida fundamental para a prevenção dos incêndios florestais". Dos 14 mil locais de incumprimento, destacaram-se os distritos de Aveiro, Braga, Coimbra, Castelo Branco, Leiria, Viseu e Vila Real. Apesar de Braga constar da lista negra, Mário Ferreira diz que o problema já foi pior. Este ano, foram detetados no distrito 738 pontos por falta de limpeza, "uma redução de quase 50% em relação ao ano passado, em que [tinham] registado cerca de 1700 pontos por limpar", contabiliza.
O comandante segue caminho, na freguesia de Crespos, para mostrar que, quase ao lado de um infrator, há também bons exemplos de quem acatou as recomendações. Um terreno de quase um hectare, com vegetação que confrontava com várias casas quando ali passaram a 22 de fevereiro, estava agora impecavelmente limpo. "Há pessoas mais agressivas, para quem não é fácil cortar árvores, porque têm um sentimento enorme por elas. Outras pessoas são muito cordiais e limpam imediatamente", afirma o guarda principal Marco Gaspar, fechando aquela ocorrência, através do telemóvel, "porque o trabalho está feito".
Mário Ferreira explica que as autoridades contam com um sistema, através do telemóvel, que identifica freguesias mais suscetíveis de ocorrência de incêndios. "Vamos aos locais e tiramos uma foto, se não estiver limpo. Nesta fase de fiscalização, se já estiver limpo, a nossa atuação cessa. Se continuar por limpar, avançamos com um auto de contraordenação". As multas podem ir dos 280 euros aos 120 mil euros.
Fiscalização
Fiscalização
26 detidos e mais autos por queimas
Desde o início do ano e até 31 de maio, a GNR deteve 26 pessoas por crime de incêndio florestal e identificou outras 314. Em igual período, registou 600 autos de contraordenação, nomeadamente 437 por queimas e 163 por queimadas não autorizadas ou por negligência na sua execução. No ano passado, em período homólogo, tinham sido elaborados apenas 73 autos de contraordenação por realização de queimadas e 296 por queimas. A maioria das ocorrências investigadas pelos militares é "de origem negligente", destacando-se que a causa principal tem sido a realização de queimas e de queimadas. A GNR lembra que os primeiros 77 postos de vigia da rede nacional já estão ativos, com 308 operadores ao serviço até ao dia 6 de novembro. A rede secundária, composta por 153 postos, será ativada a partir de 29 de junho com 612 elementos.