O GNR que morreu baleado em Aguiar da Beira foi deixado sem vida a cerca de 700 metros de casa dos pais. A família está em choque.
Corpo do artigo
5438010
António Caetano anda de um lado para o outro, rodeado de familiares e amigos, em frente à casa onde vive, na Quinta das Lameiras, em Aguiar da Beira. Acabara de perder o filho, de 29 anos, militar da GNR do posto local, onde exercia funções há quatro anos.
Terça-feira, logo pela manhã, ao ver o aparato policial, que somou com as notícias, ocorreu-lhe o pior cenário. "Eu andava aqui a trabalhar nas terras e sabia que o meu filho tinha ido fazer noite. Pensei de imediato que se tinha passado alguma coisa com ele", relatou ao JN António Caetano. "Deixaram o meu filho a 700 metros de casa, só podia ser ele", deduziu o pai da vítima.
5436894
Carlos Caetano foi baleado em várias partes do corpo e colocado na bagageira da viatura da GNR, que foi deixada no meio de um pinhal, junto ao quilómetro 45 da EN 229, que liga Viseu a Aguiar da Beira.
Na noite anterior, Carlos Caetano tinha estado com o pai e não relatou qualquer situação anormal que estivesse a viver no âmbito da atividade profissional.
"Agora, tudo o que quero fazer é o funeral e depois justiça", conclui o pai, abatido.
"Filho querido da mãe"
Carlos Caetano, morto a tiro, presumivelmente a sangue frio, solteiro, mudara-se da casa dos pais há cerca de um mês para viver com a companheira, a pouco metros de distância, na Quinta dos Cepos. Deixa um irmão mais velho, de 30 anos, emigrado na Suíça, outro de 16 e uma irmã de 13 anos.
5437477
"O Carlitos, como lhe chamávamos era o filho querido da mãe, que está em casa, em estado de choque", explica ao JN o tio da vítima, Manuel de Jesus, que em 76 anos de vida afirma nunca ter visto caso semelhante com tão grande violência.
"Tenho muita pena de perder um jovem na flor da idade, que estava agora a começar a vida dele", lamenta .
"O Carlitos era muito agarrado aos pais, estava sempre pronto a ajudar até nas lides do campo. Às vezes, a mãe ia para a apanha da maçã e era ele quem fazia o almoço porque cozinhava muito bem", elogia. "Vai fazer-nos muita falta", remata.
O apego à família era notório até para quem estava de fora. Adelino Correia, dono de um restaurante que fica a cerca de 500 metros da casa do militar morto, conhecia Carlos Caetano desde que ele era muito novo. O militar há muito que era cliente habitual do restaurante. "Vinha aqui muitas vezes com os pais. Era boa pessoa, trazia o avô a almoçar, que morreu há menos de um ano", relata.
"O meu sobrinho e afilhado"
"Foi aqui que aconteceu a tragédia?", perguntava com a voz quase sufocada pela aflição um idoso, que conduzia uma carrinha de caixa aberta e que ao final da tarde parou na EN 229, junto ao local onde foi encontrado o militar morto e o casal baleado.
Sai da carrinha, com o andar apressado e os olhos pregados numa poça de sangue, à beira da estrada. "O meu sobrinho e afilhado...", diz, referindo-se ao militar António Ferreira, de 41 anos, residente em Sezures, Penalva do Castelo, que ia com Carlos e também foi baleado na cabeça e deixado algemado na zona industrial de Aguiar da Beira (Vila Chã).
Ontem, estava internado no hospital de Viseu, mas livre de perigo: "É como se fosse meu filho. Ontem, no hospital, pediu para dizer a uma prima que cuidasse da mãe", contou, com a voz embargada.