Os dois militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) do Posto Territorial de Reguengos de Monsaraz, que estiveram presentes junto a um café desta cidade alentejana, aquando dos desacatos de 16 de julho de 2021, já receberam as respetivas notas de culpa, por parte do Comando Territorial de Évora, tendo-lhes sido dados 20 dias para apresentarem a sua defesa.
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Entre as penas propostas estão as de admoestação. Também correm o risco de descer de classe de comportamento, segundo as informações recolhidas pelo JN.
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A proposta de responsabilização disciplinar é justificada pelo facto de patrulha não ter comunicado à Sala de Situação, no Comando Territorial de Évora, que se iria deslocar ao local dos desacatos, nem, depois, que se encontrava no café. Os militares da patrulha também são acusados de não terem usado no seu cinturão os respetivos bastões.
Os factos em causa ocorreram numa sexta-feira à noite, 16 de julho de 2021, depois de um grupo de indivíduos se ter deslocado ao Posto Territorial de Reguengos de Monsaraz, para se queixar de que o proprietário de um café da cidade se recusava a atendê-los devido à sua etnia.
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A patrulha, composta pelos dois militares, foi então ao referido café, para tentar falar com o proprietário do mesmo. Instantes depois, os queixosos apareceram e a situação descontrolou-se, com troca de agressões entre estes e alguns clientes. Houve mesmo um atropelamento, quando o mais exaltado dos queixosos se sentou ao volante do automóvel do grupo de queixosos e arrancou abruptamente, abalroando cadeiras e mesas de uma esplanada que, instantes antes, estava repleta de clientes.
Vários vídeos amadores mostraram que toda aquela cena demorou minutos e se desenrolou à frente dos militares da GNR, sem que se lhes visse uma intervenção capaz de travar, em particular, o mais exaltado dos membros do grupo de etnia cigana, autor de agressões e do atropelamento.
Um homem sofreu ferimentos ligeiros por ter sido atropelado. Em comunicado, a GNR indicou então que os desacatos causaram três feridos, sendo que os outros dois não precisaram de atendimento hospitalar.
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No dia dos desacatos, o comandante da patrulha, que esteve presente no café, teria comunicado ao seu superior hierárquico que se encontrava com problemas de saúde.
O posto da GNR mais próximo de Reguengos de Monsaraz fica em Mourão, a cerca de 23 quilómetros de distância do local onde aconteceram os incidentes.
O JN questionou o Comando Geral da GNR. "Encontra-se a decorrer processo disciplinar aos dois militares em questão, encontrando-se os mesmos ainda a decorrer, em fase de defesa.", limitou-se a responder, por email.
Contactado pelo JN, o coordenador da Região Sul da Associação dos Profissionais da GNR, António Barreira, defende que os seus colegas atuaram segundo "critérios de adequação e proporcionalidade." "Foi o que os meus camaradas de Reguengos fizeram, focados em proteger sem provocar um mal maior. Caso fizessem uso do bastão ou da arma de fogo (únicos meios ao seu dispor), qual seria o resultado, teriam uma melhor atuação e apoio? Fica a questão, para a qual sabemos a resposta", comenta.