Grupo violento ataca família para silenciar denúncia de tráfico de droga na cadeia
Ex-mulher e filhos de recluso da prisão do Vale do Sousa foram atacados por grupo no interior da própria habitação.
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Conhecidos traficantes, presos na cadeia do Vale do Sousa, enviaram, no último fim de semana, um "comando" a Gaia, para silenciar alegadas denúncias de tráfico naquela prisão. A visada foi a ex-companheira de um dos cúmplices dos traficantes, que também cumpre pena no mesmo estabelecimento prisional. Para os líderes da rede instalada na prisão, foi ela a autora de acusações de tráfico de drogas, cartões e telemóveis naquele estabelecimento prisional que motivaram revistas às celas.
A mulher jura, ao JN, "nunca" ter "sequer pensado" em tal, mas o certo é que foi surpreendida pelos agressores, ao final da tarde do último sábado, na quietude da casa, onde se encontrava na companhia dos dois filhos, um deles adolescente. "Pensei que nos iam matar a todos", confessa. "Foram minutos que pareceram uma vida, de gritos, agressões e ameaças. Foi dor e terror. Nem nos filmes se vê aquilo", garante.
Telefonema estranho
Tudo começou pouco depois das 20 horas, quando "Susana" (nome fictício) recebeu um telefonema de um conhecido seu, "do Bairro do Lagarteiro", no Porto, a dizer que "estava com uma mulher" que lhe queria falar "com muita urgência". "Susana" anuiu e, do outro lado, uma voz feminina que não se identificou, afirmou, "em tom autoritário", que tinha de se encontrar com ela naquela noite. "Susana" ainda perguntou as razões para a urgência do encontro, mas a interlocutora insistiu no "hoje e agora".
Sem compreender tamanha pressa nem o "tom autoritário", a vítima sugeriu um posto de abastecimento na zona do Grande Porto, bem afastado da sua casa, como local para a reunião, cedeu o seu número de telefone e, passados poucos minutos, estava a receber uma mensagem da mulher. Não respondeu, antes ligou para um amigo a dar conta da estranha situação e ainda estava ao telemóvel quando ouviu "o inferno entrar pelas portas dentro".
"Alguém bateu à porta e a minha filha, pensando que eram os vizinhos [idosos], abriu", recorda. Nesse instante, irromperam "três mulheres e um grupo de seis ou sete homens". "A minha filha foi a primeira a ser agarrada pelos cabelos, derrubada e agredida. Gritávamos todos como desalmados", descreve. Depois, continua, "enquanto uns continuaram à volta da menina, outros correram para mim".
"Nem sei bem o que me fizeram, só senti muita dor, muros, pontapés e mordidelas. E houve uma altura que senti arrancarem-me pedaços de cabelo", refere. "Susana" relata que, nesta altura e "já sem forças", só pediu para que não a matassem.
Ameaças de morte
"Susana" recorda que uma das agressoras, que reconheceu como companheira de um preso na cadeia do Vale do Sousa, lhe terá dito a determinada altura: "Se a cela do meu marido for outra vez revistada, vimos cá matar-te". E foi esta frase que a fez perceber que os agressores a consideravam delatora de alegados tráficos que ocorrem neste estabelecimento prisional.
As agressões e os gritos de socorro foram ouvidos pelos vizinhos que, devido ao número de elementos e violência do grupo invasor, se limitaram a chamar as autoridades. "Susana" e a filha, desmaiadas, já não ouviram "as sirenes", mas foi o toque destas que afugentou os agressores.
A vítima só se lembra de acordar no hospital, sem conseguir responder às perguntas da Polícia.