Ligações com marroquino na mira das autoridades. Cinco motards e outros nove suspeitos de associação criminosa para venda de estupefacientes.
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Cinco elementos dos Hells Angels, grupo de 89 motards acusado de associação criminosa, homicídio qualificado na forma tentada, extorsão, entre outros atos violentos, vão ser alvo de uma nova investigação por suspeitas de tráfico de droga. O inquérito vai apurar as ligações dos cinco membros do grupo motard com outros nove suspeitos. Libertados após três meses em prisão preventiva, os indivíduos residem no Algarve.
A decisão do Ministério Público foi tomada em janeiro pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que investigou o gangue de motards desde o ataque ao restaurante do Prior Velho, em Loures, e já o acusou de dezenas de crimes violentos.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o DCIAP encontrou na investigação inicial provas de que cinco elementos dos Hells Angels do Algarve se dedicavam ao tráfico de droga, a par de suspeitos já identificados pela investigação da Unidade Nacional Contra Terrorismo da Polícia Judiciária.
O DCIAP enviou agora toda a informação que recolheu para o Ministério Público de Faro, onde a investigação vai prosseguir.
Neste inquérito, por suspeitas de associação criminosa para tráfico de droga, as autoridades deverão ter particular interesse em apurar as relações dos cinco Hells Angels com um cidadão de origem marroquina que reside em Espanha, suspeito de ser um importante fornecedor de produtos ilícitos.
Luta com grupo rival
Os cinco motards do Algarve estão em liberdade, tal como outros 32 elementos do grupo dos Hells Angels que estiveram em prisão preventiva até novembro passado.
Naquela altura, o Tribunal Central de Instrução Criminal ordenou a libertação de 37 dos 40 presos preventivos, devido ao esgotamento dos prazos máximos de prisão preventiva.
Ainda assim, foram impostas proibições aos arguidos, entre as quais as de viajar para o estrangeiro sem autorização, de contactos com outros sujeitos processuais e quaisquer elementos dos Hells Angels e de participação em qualquer concentração motard.
A organização portuguesa do grupo internacional Hells Angels ficou na mira das autoridades depois do ataque a um restaurante do Prior Velho, em Loures, em março de 2018. No estabelecimento reuniram-se elementos de um grupo rival (Red & Gold), liderado pelo nacionalista Mário Machado. Usaram facas, machados e bastões, cometendo vários homicídios tentados e outros crimes.
Em causa estava uma luta para manter o domínio de negócios ilegais associados a grupos de motards em Portugal. Os Angels encararam como uma ameaça o grupo Red & Gold, que Mário Machado implantava em Portugal.
Quatro meses depois, a PJ lançava a primeira vaga de detenções, visando desmantelar os cinco núcleos dos Hells Angels em Portugal.
PORMENORES
Alerta no RASI
A vigilância das autoridades sobre os Hells Angels é anterior ao ataque no restaurante no Prior Velho, Loures. O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2017 revelava que os motards "bikers um por cento" se destacavam em atividades de diversão noturna, constituindo ameaça à segurança nacional.
Novo diretor
A megaoperação de julho de 2018 foi uma das primeiras do novo diretor nacional da Polícia Judiciária, que tomou posse em junho do mesmo ano. Luís Neves era o diretor da Unidade Nacional Contra Terrorismo e foi quem iniciou as primeiras operações de monitorização do grupo motard em Portugal.
ACUSAÇÃO
89 arguidos
O processo principal dos Hells Angels conta com 89 arguidos, do Norte a Sul do país. Estão acusados de crimes violentos.
Complexidade
A lei determina que a prisão preventiva dos arguidos se extingue quando, desde o seu início, tiverem decorrido um ano e quatro meses sem que tenha sido proferida decisão instrutória. Por isso, 37 dos Hells Angels foram libertados há três meses.