Homem e mulher desaparecidos: “A minha irmã foi raptada. Se está viva ou morta, não sei”

“A minha irmã foi raptada. Se está viva ou morta, não sei”. As palavras são de Manuel Figueiredo, conhecido por “Neca”, irmão de Conceição Figueiredo, a mulher de 69 anos que está em paradeiro incerto desde domingo, em Oliveira do Bairro. Ao final desse dia, foi vista a sair de uma danceteria, na Palhaça, com Jair Pereira, de 58, com quem teve um relacionamento amoroso no último verão e que também desapareceu. Anteontem à noite, a casa de Jair, localizada na Murta, no mesmo concelho, ardeu parcialmente, havendo suspeitas de fogo posto.

A Polícia Judiciária de Aveiro investiga o desaparecimento de Conceição e de Jair. Mas, ontem à tarde, ainda estavam vários cenários em aberto, de crime, acidente ou desaparecimento voluntário.

Paulo Silva, proprietário da Danceteria Alex, contou ao JN que, de acordo com as imagens de videovigilância do estabelecimento, Conceição, que não era cliente habitual do espaço, chegou à matiné que ali decorria pelas 15.04 horas. “Chegou com uma amiga e, como não tinham reserva, ficaram no balcão a beber um café e uma água, à espera que eu lhes arranjasse lugar. O Jair chegou cinco minutos depois, juntou-se logo a elas e pediu uma Coca-cola”, explicou o empresário.

As imagens de videovigilância, segundo Paulo Silva, mostram que Conceição e Jair “dançaram juntos quase a tarde toda” e que a amiga dela que a levara de carro “foi embora por volta das 18 horas”. Já o casal abandonou o local junto, pelas 19 horas.

Acordou vizinhos

De madrugada,  entre as 2.15 e as 2.30 horas de segunda-feira, Jair Pereira bateu à porta dos vizinhos, Maria da Soledad e António. “Acordámos, o meu marido foi à porta e o Jair disse-lhe que andava desnorteado da cabeça, por causa da São, e que precisava de sair dois ou três dias. Pediu se podíamos dar de comer à mãe dele e não estranhámos, porque era o que fazíamos quando ele não estava”, recordou Maria.

Ao mesmo tempo, o homem agora desaparecido entregou ao vizinho uma motosserra, dois carros de mão e um corta-sebes, pedindo-lhe para os guardar, “para não roubarem”. A partir daí, ninguém soube do seu paradeiro. A carrinha que usava diariamente para se deslocar ficou em casa, assim como os seus documentos.

A família de Conceição – que vive sozinha, num apartamento – estranhou, na segunda-feira, que ela não aparecesse, às 8 horas, na casa de um irmão que tinha prometido ir ajudar. “Ligámos e já tinha o telemóvel desligado. O tempo foi passando, não sabíamos dela e perguntámos à amiga, que nos disse que ela tinha ficado na danceteria com o Jair. Ligámos-lhe a ele, mas também tinha o telefone desligado”, contou Manuel Figueiredo. Pelas 19 horas, reportaram o desaparecimento à GNR.

“Ele perseguia-a”

“Eles tiveram um caso, mas ela desistiu. E ele agora não a largava. Estava sempre a telefonar-lhe, mas ela via que era o Jair e não atendia. Ele perseguia-a”, garantiu o irmão da desaparecida. Conceição tinha regressado a Oliveira do Bairro no início de abril, depois de em setembro ter ido para França, país onde vive parte do ano e onde residem os três filhos.

As incertezas sobre o caso aumentaram, anteontem à noite, quando, cerca das 23 horas, um incêndio deflagrou na garagem da casa de Jair Pereira, estendendo-se à parte da habitação.

As autoridades suspeitam de fogo posto e, ontem à tarde, a GNR montou um perímetro de segurança à volta da moradia. A carrinha do homem, assim como diversos objetos que ficaram queimados, foram colocados pelos bombeiros no exterior.

Mãe em instituição

Uma instituição levava, diariamente, refeições à mãe de Jair, que está acamada. Era o filho quem lhe dava de comer. Com o seu desaparecimento, a Segurança Social pôs a idosa, quarta-feira, num lar.

Cães resgatados

Os três cães do homem, ao abandono na moradia, foram anteontem levados pelo veterinário municipal para um canil.

5 dias passaram desde que Jair Pereira e Conceição Figueiredo foram vistos pela última vez. A PJ já efetuou diligências nas habitações de ambos.