Era vizinho do sogro e essa proximidade acicatou, durante anos, as recorrentes discussões e ameaças recíprocas. A 15 de setembro de 2021, porque o sogro lhe cortou a ligação elétrica do motor de rega, matou-o à facada. Um ano depois começou a ser julgado, no Tribunal de São João Novo, no Porto, mas remeteu-se ao silêncio.
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Alberto Teixeira, de 53 anos, apresentou-se ontem perante um coletivo de três juízes para responder pelo homicídio qualificado que vitimou o sogro, Virgílio Santos, de 81 anos.
O presumível homicida e a vítima, bem como os respetivos agregados familiares, habitavam casas diferentes, mas construídas no mesmo terreno, na Estrada da Rainha, em Serzedo, Vila Nova de Gaia. Diz quem os conhece que "há anos que se davam mal" e que a vítima tinha um "mau feitio" que provocava zangas repetidas com outros familiares.
No dia 15 de setembro do ano passado, da parte da manhã, Alberto ligou o motor do poço, para regar. Mas, segundo a acusação, o sogro decidiu cortar a corrente que alimentava o motor. O que gerou nova discussão, mais ameaças.
Ao final do dia, Alberto ainda ruminaria o incidente da manhã e, quando percebeu que o sogro estava nas traseiras da casa, correu à cozinha, pegou em duas facas e, pelo menos com uma delas, atingiu-o nas costas, no pescoço, no peito e no abdómen. "Pelo menos 7 facadas", contabilizou o Ministério Público.
De seguida, e já com o sogro prostrado a esvair-se em sangue, Alberto pegou num bloco de betão, com 20 quilogramas, e lançou-o contra a cabeça da vítima.
Alberto seria detido horas depois e, desde então, está em prisão preventiva.
Ontem, o arguido remeteu-se ao silêncio e ouviu uma sobrinha, Raquel, a declarar aos juízes que estava perto do local do crime, ouviu gritar "Beto, Beto" e correu, mas só viu o tio Alberto dar com o bloco na cabeça do avô. Jurou não ter visto sinais de facadas, embora chegasse a ver o tio "com uma faca na mão". Adiantou também que o tio já havia ameaçado "matar o avô, a tia Rosa e o primo Leão". A testemunha também disse que o avô tinha algum mau feitio e estivera zangado, "até há pouco tempo", com o filho, pai da testemunha.
Ao depoimento desta seguiu-se o da prima, Liliana, filha do alegado homicida e neta da vítima. Jurou que o pai era boa pessoa e que o crime foi o culminar de anos de má convivência. Contou também ao tribunal que logo que chegou a casa, a correr aflita porque a mãe a avisara do sucedido, ouviu do pai uma explicação: "[O teu avô] disse que me matava, adiantei-me e mateio-o eu".
Arguido inimputável?
A defesa do alegado homicida tenderá a invocar a sua inimputabilidade, pelo menos, parcial. Perícias forenses reconheceram que Alberto padece de "atraso mental ligeiro a moderado" e, embora "imputável", atribuem-lhe "imputabilidade diminuída", pela "sua baixa dotação intelectual".
O arguido já esteve internado num hospital psiquiátrico.