Homem que baleou gerente e cliente de bar no Porto diz que “só queria assustar”
O homem que, a 11 de março do ano passado, baleou o gerente e um cliente do “Granada Night Club”, no Porto, disse, esta segunda-feira, que disparou para “assustar” e está “muito arrependido” daqueles “atos irrefletidos”.
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Fernando Castro, de 46 anos e residente em Rio Tinto (Gondomar), começou a ser julgado no Tribunal de São João Novo por duas tentativas de homicídio. Está em prisão domiciliária.
“Não tive pontaria para acertar em ninguém. Queria assustá-los, senti-me humilhado. Não foi com a intenção de matar ou ferir alguém. Foi com a intenção de assustar”, disse ao coletivo de juízes, pedindo desculpa aos ofendidos pelos “atos irrefletidos”.
“Sabe que as armas só servem para uma coisa: para matar pessoas”, disse a juíza-presidente. “Só queria assustar”, insistiu o arguido. “Assustar? Chamava a polícia ou disparava para o ar”, devolveu a magistrada.
“Se o seu objetivo era assustar porque levou consigo 24 munições?”, questionou o procurador do Ministério Público. “Estava tudo dentro do bolso numa meia”, disse, afirmando que foi a primeira vez que pegou numa arma. “Não me diga uma coisa dessas”, afirmou o magistrado, desacreditado com aquela resposta.
Durante a sessão, foram ainda ouvidos os dois ofendidos. “Nunca pensei que o Sr. Fernando fosse disparar”, disse o gerente do bar que, na altura, foi atingido de raspão no pescoço. Também o ferido mais grave, que foi baleado na perna e ficou 113 dias com incapacidade parcial para o trabalho, afirmou que ainda vai ser submetido a mais intervenções cirúrgicas.
Além de dois crimes de homicídio na forma tentada, Fernando está também acusado de detenção de arma proibida. Em tribunal, disse que a arma semiautomática, originalmente de alarme e depois transformada para disparar munições de calibre 6.35mm, pertencia ao "falecido sogro" e estava escondida "no pneu suplente" na mala traseira.
O caso teve lugar já depois das 4 horas da madrugada de 11 de março, quando Fernando resolveu ir com dois amigos ao “Granada”. Parado o BMW junto ao estabelecimento, um dos homens entrou no bar para perceber se este ainda estava em funcionamento, mas rapidamente foi posto na rua pelo porteiro. Também o gerente não permitiu a sua entrada, devido a desavenças anteriores, e gerou-se uma discussão.
Alertado pela confusão, Fernando saiu da viatura, dirigiu-se à entrada da boate e, pouco depois, envolveu-se em confrontos com clientes do estabelecimento que vieram à porta. A luta foi rápida e a maioria das pessoas regressou ao bar. Já Fernando foi ao carro, pegou numa pistola e voltou ao estabelecimento.
Segundo a acusação do Ministério Público, consultada pelo JN, o suspeito, de pistola em punho e “encolerizado pelas agressões sofridas”, fez uma primeira tentativa para entrar no “Granada Night Club”, mas foi agarrado pelo amigo agredido em primeiro lugar. Em seguida, e ainda da rua, disparou na direção da porta do bar entreaberta, com a bala a atravessar a madeira e a atingir, de raspão, o pescoço do gerente que se encontrava do outro lado.
O tiro causou o pânico nas pessoas que estavam no interior do espaço, com muitos a esconderem-se atrás dos sofás e outras a refugiarem-se no fundo da sala.
Aproveitando o alvoroço que se instalou, Fernando entrou no bar e, sempre de arma em punho, foi à procura de quem o tinha agredido. Localizou um deles, voltou a disparar, mas o alvo esquivou-se à bala ao saltar para um dos sofás. A vítima já não evitou o disparo seguinte, tendo sido atingido na perna direita.
Não satisfeito, Fernando continuou à caça de mais alvos, mas, como já não identificou ninguém, tentou abandonar o local. À porta, contudo, foi desarmado por dois homens, um dos quais o amigo que originou os primeiros confrontos, e detido pela PSP.