Homem que matou duas mulheres no Centro Ismaili alega legítima defesa contra "conspiração"
O homem acusado de, em março de 2023, ter matado duas mulheres no Centro Ismaili, em Lisboa, alegou esta quinta-feira, início do julgamento, que agiu em legítima defesa e que existia uma "conspiração" entre os funcionários da instituição e a família de Aga Khan, líder espiritual da comunidade ismaelita, para o matar.
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Abdul Bashir, refugiado afegão de 30 anos em Portugal desde outubro de 2021, responde, entre outros crimes, por homicídio agravado e, defende o Ministério Público na acusação, é inimputável por sofrer de doença mental, incluindo esquizofrenia.
Num depoimento escorreito de cerca de duas horas, prestado na sua língua materna com recurso a um intérprete, o arguido contou que, a 28 de março de 2023, saiu da aula de português a que assistia no Centro Ismaili para entregar documentos a Farana Sadrudin, de 49 anos. Quando chegou ao gabinete esta estaria com Mariana Jadaugy, de 24. Ambas apoiavam na integração de refugiados.
Na versão de Abdul Bashir, a trabalhadora mais nova tê-lo-á esfaqueado na barriga. O cidadão afegão agrediu então ambas com uma faca de cozinha que tinha sempre consigo desde janeiro de 2023, porque sentia que "corria perigo".
"A família de Aga Khan e funcionários [do Centro Ismaili] fizeram um esquema, uma conspiração para me matar", afirmou. Mais tarde, garantiu que, após esfaquear Farana Sadrudin e Mariana Jadaugy, quis que os polícias chamados ao local o matassem a tiro. Questionado pelo tribunal sobre a contradição, retorquiu que "se assustou" porque lhe queriam "tirar os órgãos para os vender".
Nada no processo indicia que as alegações do presumível homicida são verdadeiras.
Antes de os agentes chegarem ao Centro Ismaili e o imobilizarem com um tiro na perna, Abdul Bashir ainda regressou à sala de aulas, tendo esfaqueado o professor quando este tentava fugir. "Também pertencia a este plano", afirmou. Negou, contudo e ao contrário do que defende o Ministério Público, ter atacado outros alunos, igualmente refugiados.
O docente de português é uma das testemunhas que será ouvida durante a sessão da tarde. Abdul Bashir está internado preventivamente no Hospital-Prisão de Caxias e, assegurou, só há oito meses passou a estar medicado. Sobre o arguido pende também um mandado de detenção europeu por, em 2021, ter alegadamente matado a mulher e mãe dos seus três filhos, de cinco, oito e dez anos, quando a família vivia num campo de refugiados na Grécia.