Homem que ocultou cadáver da mãe para receber pensão diz que agiu "por necessidade"
O homem que, em 2020, ocultou o cadáver da mãe em Mirandela para continuar a receber a reforma confessou em tribunal que o fez "por necessidade", uma vez que não tinha trabalho certo.
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Durante a sessão do julgamento desta terça-feira, no Tribunal de Bragança, Nuno Albino, de 54 anos, garantiu que ficou muito traumatizado com a morte da mãe e que nunca mais entrou no quarto onde ela morreu, no rés do chão da casa. A habitação tem dois pisos, com entradas independentes, e Nuno Albino ocupava apenas o primeiro andar.
O corpo da mãe foi encontrado por inspetores da Polícia Judiciária (PJ) em outubro de 2022 na sua residência, em avançado estado de decomposição. As autoridades deslocaram-se à residência em busca da mulher dada como desaparecida, no âmbito de um processo que corria no Tribunal de Mirandela.
Nuno Albino está acusado de vários crimes, nomeadamente profanação e ocultação de cadáver, burla informática, prestação de informações falsas e apropriação de dinheiro relativo à pensão da mãe entre março de 2020 e outubro de 2022 e de subsídios do IFAP de dois anos (Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas).
Segundo a acusação, a mãe, Julieta Gomes, de 70 anos, terá morrido a 8 de fevereiro, mas o filho não sinalizou o óbito, deixando a mulher como a encontrou, morta na cama. Nuno Albino, que ia trabalhando nas obras, explicou que tinha uma conta bancária com a mãe. Na acusação, o Ministério Público refere que o arguido efetuou vários levantamentos dessa conta.
Sobre os subsídios do IFAP, transferidos por uma associação de Mirandela em nome da mãe, afirmou que se considera proprietário dos terrenos, herdados por partilhas feitas em 2012 e formalizadas em 2016. No entanto, não estavam registados no seu nome. Nuno referiu que não tinha os códigos de acesso ao IFAP, nem assinou documentos, “porque a associação tratava de tudo”.
Julieta, antiga auxiliar de ação médica no Hospital de Mirandela, tinha uma reforma mensal de cerca de 900 euros, resultante da pensão de velhice e de sobrevivência, após a morte do marido, em 2010.
A PSP já tinha tentado notificar a mulher, que sofria de Alzheimer, no âmbito de um processo relacionado com violência doméstica, mas sem sucesso, e comunicou o facto ao tribunal. Julieta não era vista desde 2021.
Nuno Albino foi detido pela PJ de Vila Real no dia 14 de outubro de 2022, dia em que os inspetores encontraram o cadáver da mãe.