O homem condenado a 23 anos e meio de prisão, em março, por matar a amante grávida de sete meses, num bosque de Borba, desconfiava não ser o pai do primeiro filho que teve a vítima. Chegou a pedir um teste de ADN no Ministério Público, poucos meses antes do crime
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É isso que revela o acórdão que condenou Nélson Barraco a uma pena de 21 anos de prisão pelo homicídio qualificado de Cláudia Silva, cometido em junho de 2023, e a outra de quatro anos e seis meses pelo crime de aborto, o que, em cúmulo jurídico, totalizou 23 anos e meio de cadeia.
Apesar de negar ter qualquer dúvida sobre a paternidade, o arguido, de 45 anos, chegou a deslocar-se aos serviços do Ministério Público, em fevereiro de 2023, para que fosse investigada a paternidade do filho que ambos tinham em comum e que tinha dois anos e sete meses, aquando do crime. Ora, para o coletivo de juízas que o condenou, tal é “indiciador” de que a relação que mantinha com a vítima desde 2019 não era “normal”, como quis fazer crer ao Tribunal de Évora, havendo desconfianças de traição.
“A sua postura quando confrontado com tal facto está desfasada da realidade e atenta contra as regras da experiência comum, pois sustenta que o fez por questões de necessidade de prova de tal paternidade. Ainda que não duvidasse, outros podiam ter dúvidas no futuro e precisava de o precaver”, lê-se na decisão.
Outra prova considerada fundamental foi um cabelo encontrado na lâmina de um canivete que a vítima usava para apanhar orégãos, quando foi morta. Uma perícia comprovou ser do arguido e, para o tribunal, esse facto indicia que Nelson esteve em contacto com o objeto após o crime.
Para as juízas, é impossível que o cabelo tenha sido colocado antes e lá permanecido após recolha de orégãos. Só pode ter caído quando o arguido estava no local do crime.