Maria Augusta Santos, de 88 anos, vive há mais de 10 anos no Lar de São Lourenço, em Ermesinde (Valongo). A 18 de dezembro de 2014 foi deixada no chuveiro com a água a ferver, sentada numa cadeira de rodas. Desconhece-se quanto tempo durou o sofrimento da idosa. O caso chegou agora a tribunal e a família exige ao lar uma indemnização de 100 mil euros.
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Só no dia seguinte ao banho a ferver, e por insistência dos filhos, é que Maria Augusta Santos foi transportada ao Hospital de São João, no Porto. De seguida, foi transferida para a Unidade de Queimados do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
O Centro Social de Ermesinde, que gere o lar de idosos, duvida que o atraso no transporte para o hospital tenha contribuído para o agravamento do estado de saúde de Maria Augusta. "A esse respeito, vai ser decidido em tribunal se há responsabilidade e de quem", responde, ao JN, Henrique Rodrigues, presidente da instituição, salientado que a funcionária que interveio no incidente foi suspensa durante um mês e depois rescindiu contrato, por acordo.
Internada dois meses
De acordo com a família, quando uma das filhas foi visitar a mãe, esta não falava. Foi preciso tirar as ligaduras para perceber a gravidade da situação, que obrigou a dois meses de internamento.
"Somos três irmãos e revezámo-nos nas visitas. Naquele dia à noite ligaram-nos a dizer que a água do banho tinha saído um pouco quente e que seria normal, quando a fossemos visitar, se ela estivesse com a pele vermelha", conta, ao JN, José Carlos Pereira, um dos filhos.
Só que no dia seguinte revelou-se a gravidade dos ferimentos, confirmada pelos médicos do Hospital de São João. "Quando fomos vê-la, estranhámos ela não falar. Estava na cama e, aparentemente, nada tinha de grave. Só quando tirámos as ligaduras das pernas e de parte da barriga é que vimos as queimaduras. Ligamos logo ao 112 e a minha mãe foi levada para o Hospital São João, onde lhe diagnosticaram queimaduras de 2.0º e 3.º grau e determinaram a transferência para Coimbra", refere.
"Apesar de estar numa cadeira de rodas, ela ainda comia à mesa e falava connosco. Após as queimaduras, deixou de falar e é alimentada por uma sonda. Choca-nos que o lar não tenha chamado imediatamente o INEM, apesar de terem enfermeiras e de a minha mãe ter sido vista por um médico", lamenta José Carlos Pereira.
Responsáveis do lar disseram à família que uma auxiliar estava a dar banho a Maria Augusta quando foi chamada por outro utente e deixou a água quente a correr.
O caso chegou agora ao Tribunal Cível do Porto e o advogado da família, Joel Pereira, salientou ao JN que "não está aqui em causa o dinheiro, mas sim uma questão moral". "Não conseguimos sequer imaginar o sofrimento de Maria Augusta", sublinha.
Continua no lar
Maria Augusta continua no lar, pois a família não encontrou outra instituição onde a colocar. "Necessita de tratamento médico constante e nenhuma entidade conseguia saber quanto custaria", diz o filho.
Sete réus
São sete os arguidos no processo cível, incluindo um médico, uma companhia de seguros, responsáveis do lar e enfermeiras.