Polícia Judiciária desmantelou maior unidade de produção na Grande Lisboa que abastecia Europa através de “farmácias virtuais”.
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A partir de uma garagem situada na Grande Lisboa, um técnico de informática montou o maior laboratório nacional de produção ilegal de esteroides anabolizantes, que abastecia vários países europeus. A Polícia Judiciária desmantelou a operação do suspeito que terá lucrado milhões de euros com o tráfico de substâncias dopantes, altamente prejudiciais para a saúde pública. O homem, que prestava serviços informáticos no Benfica, já está em prisão preventiva. Um cúmplice foi detido e libertado com apresentações periódicas às autoridades.
A fábrica improvisada de produtos dopantes estava apetrechada de maquinaria que permitia produzir milhares de unidades por dia. O informático conseguia assim abastecer milhares de clientes em França, Espanha, Itália, Bélgica, Países Baixos e Alemanha. As unidades de anabolizantes e dos injetáveis eram publicitados e vendidos através de “farmácias virtuais” e redes sociais na Internet.
Prestes a entrar no mercado
De acordo com a Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC), as buscas permitiram desmantelar o centro de produção em massa de anabolizantes, que será, “provavelmente, o de maior dimensão até hoje identificado e localizado”. Além dos equipamentos laboratoriais e máquinas industriais, a PJ também confiscou grande quantidade de substâncias proibidas cuja produção estava finalizada e já se encontravam embaladas e etiquetadas, contendo cartonagens, blisters, hologramas e bulas “que habilitavam os produtos dopantes em causa a entrar no mercado, com aparência de produção certificada e produção laboratorial legítima”, adiantou a PJ. Havia hormonas de crescimento e substâncias para cavalos.
O técnico informático do Benfica (o clube nada tem a ver com o processo) encomendava as matérias-primas na Ásia, onde também adquiriu as máquinas, compradas antes do final de 2018, ano em que se iniciou a investigação. O processo começou com a apreensão de 35 mil unidades de esteroides em França, numa ação em que foi detido um atleta federado gaulês de futebol americano. A investigação apurou que os produtos dopantes tinham origem em Portugal e comunicou-o à justiça nacional.
“A Polícia Judiciária está em crer que estancou uma importante fonte de produção de substâncias dopantes. [Durante a investigação] fomos tendo a perceção que seria um importante golpe num centro de produção de excelência em Portugal”, frisou ontem o diretor da UNCC, Pedro Fonseca, salientando os efeitos devastadores do consumo destes produtos, produzidos e tomados sem controlo: “São uma bomba-relógio que estamos a colocar no corpo humano.”
PORMENORES
Milhões de euros
O material confiscado nas buscas está avaliado em cerca de 1,5 milhões de euros. Na operação foi efetuada a apreensão de mais de 250 mil euros em numerário e criptomoeda. Quatro viaturas de luxo, avaliadas em cerca de 300 mil euros, também foram confiscadas.
“Corpus Insanus”
A PJ designou a operação como “Corpus Insanus” e indiciou os arguidos por crimes de tráfico de substâncias e métodos proibidos, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, relacionados com a produção laboratorial ilícita de anabolizantes.
Investigação
A investigação da UNCC vai prosseguir para identificar eventuais cúmplices.