Inspetores de alfândegas suspeitos de receber subornos milionários de cartéis de droga
Os cinco inspetores da Autoridade Tributária (AT) detidos este domingo pela PJ, por suspeitas de facilitarem a entrada em território nacional de toneladas de cocaína, através dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sines, terão recebido subornos de milhões de euros dos cartéis sul-americanos ao longo dos últimos anos.
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Dois dos cinco suspeitos de corrupção, branqueamento de capitais e tráfico de droga já tinha sido filmados por um importador de cocaína a acertar um suborno de 700 mil euros.
Com um telemóvel escondido na sua casa, em Azeitão, Luís Mayer, acusado de ser um importador de droga, filmou uma reunião com dois inspetores da AT, a quem ofereceu os 700 mil euros para deixarem entrar 1,3 toneladas de cocaína no Porto de Lisboa, sem fiscalização. Numa operação da PJ de março do ano passado, o traficante, ligado aos cartéis sul-americanos, acabou detido e a droga, que já tinha passado a alfândega com a alegada cumplicidade dos elementos do Fisco, foi apreendida.
Os factos ligados à importação da cocaína vão ser julgados em breve no Tribunal de Leiria, sem que estejam no banco dos réus os inspetores da AT. É que, depois da apreensão do ano passado, a PJ começou a investigar os elementos do Fisco e, em fevereiro deste ano, realizou as buscas em casa dos funcionários públicos, onde, no total, foi apreendido perto de meio milhão de euros em dinheiro vivo. Foram constituídos arguidos e a AT moveu aos dois elementos filmados por Meyer um processo disciplinar e suspendeu-os preventivamente.
Por ter reunido mais prova e por considerar existir perigos de fuga e de continuação da atividade criminosa, além de perturbação do inquérito, a PJ avançou este domingo para a detenção dos cinco elementos da AT, numa operação batizada de “Porthos II”.
“Os factos sob investigação estão relacionados com a beneficiação de organizações criminosas internacionais, dedicadas à exportação de elevadas quantidades de cocaína, por via marítima, a partir da América Latina”, precisa a PJ, acrescentando que “estas organizações criminosas usam os portos marítimos nacionais como porta de entrada de estupefacientes, no continente europeu, dissimulados em diversos produtos acondicionados em contentores”.
As diligências deste domingo são o culminar da Operação “Porthos”, lançada em fevereiro pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ. Nessa altura, foram executados 32 mandados de busca e detidas quatro pessoas, em flagrante delito, por crimes menores. Entre eles estavam os dois inspetores da AT filmados por Luís Mayer, que lhes ofereceu 700 mil euros para fechar os olhos à entrada em Portugal de mais de uma tonelada de cocaína.
O vídeo, filmado às escondidas pelo traficante Luís Meyer, serve de prova incriminatória contra dois dos cinco elementos das alfândegas, hoje detidos. Na filmagem, a dupla explica a Meyer como irão proceder para que os contentores com lulas e cocaína entrassem em território nacional.