Milhões transferidos entre contas dos suspeitos da Operação Fora de Jogo levantaram suspeitas do Fisco, que abriu processos. Tondela alvo de buscas.
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A megainvestigação que levou a um autêntico tsunami no futebol português, com a realização de perto de 100 buscas às SAD dos maiores clubes, de futebolistas, empresários, entre eles o superagente Jorge Mendes, e ainda de advogados, nasceu de alertas do sistema bancário sobre movimentações de somas milionárias consideradas suspeitas. A Operação Fora de Jogo, que já conta com mais de 130 arguidos e abrange um total de 500 milhões de euros de negócios, ainda na quinta-feira levou as autoridades a realizar mais buscas no Clube Desportivo de Tondela.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, foram várias as transferências bancárias efetuadas, entre 2014 e 2015, pelas empresas suspeitas da emissão de faturas fictícias, num complexo esquema de encruzilhada de sociedades e pessoas do mundo do futebol. O que fez soar os alarmes. As suspeitas foram comunicadas às autoridades e o Ministério Público abriu o inquérito conhecido como Operação Fora de Jogo.
Em causa estão três dezenas de inquéritos por fraude fiscal, branqueamento e fraude à Segurança Social que o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) juntou por terem matéria e protagonistas comuns.
Intermediação suspeita
A primeira parte da operação foi realizada em março do ano passado e compreendeu 70 buscas que deram corpo às suspeitas da existência de prestações de serviços forjadas na intermediação na negociação de contratos de jogadores, quer na compra quer na venda. O esquema passará pela introdução de terceiros no negócio, entre as SAD dos clubes, os jogadores e os agentes. Empresas, muitas vezes com sede no estrangeiro, passam faturas de prestação de serviços de intermediação que, para as autoridades, não existiram. Desta forma, artificialmente os custos do negócio são aumentados, o que faz diminuir o valor tributável em sede de IVA e IRC.
Na altura, foram alvo de buscas Benfica, F. C. Porto, Sporting, Sp. Braga, V. Guimarães, Portimonense, Estoril e Marítimo. Tal como as residências dos líderes dos quatro grandes e casas e escritórios de Jorge Mendes. Esta semana, fruto da documentação e prova apreendidas na primeira operação, o MP avançou com nova ação visando o Braga e o Vitória, assim como as casas do antigo internacional Deco.
Já ontem, além de buscas num escritório da Avenida da Liberdade, em Lisboa, a Autoridade Tributária esteve também no Tondela. Em causa, sabe o JN, está a transferência do jogador Osorio para o F. C. Porto, na época 2017/2018. Em comunicado, o clube garante ter prestado "o auxílio pedido no acesso a toda a documentação e informação numa conduta totalmente cooperante com os inspetores e operação em causa".
João Pinto pode ser preso por não pagar 128 mil euros
O ex-internacional e atual diretor da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), condenado, em 2012, a uma pena de ano e meio de prisão, suspensa na sua execução à condição de pagar ao Estado uma indemnização de mais de 600 mil euros, acrescidos de juros, arrisca-se a ser preso. Ainda deve 128 mil euros correspondentes ao juros. Segundo o jornal "Público", João Vieira Pinto foi notificado para comparecer, na próxima semana, em tribunal para esclarecer a dívida. O antigo internacional foi condenado em 2012 por fraude fiscal. Em causa estavam impostos sobre prémio de assinatura, no valor de 4,2 milhões de euros, que recebeu quando se mudou do Benfica para o Sporting, em 2000.