<p>Ana Salgado pode vir a alterar o seu testemunho no Apito Dourado e desmentir as denúncias que fez contra a irmã - com quem já fala - e sobre a investigação. Para já, tem tido encontros informais com o Ministério Público.</p>
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Nos últimos dias, as irmãs, até recentemente desavindas, têm intensificado contactos. E, de acordo com informações recolhidas pelo JN, até já terão ocorrido conversas com pelo menos um magistrado ligado à Procuradoria Geral da República (PGR).
Em causa está uma investigação, iniciada em 2007 por ordem do procurador-geral da República, sobre o teor e as circunstâncias do depoimento da gémea Salgado, no DIAP do Ministério Público do Porto.
Verificou-se, desde então, uma ruptura no relacionamento entre as irmãs e mesmo entre Ana e o pai, Joaquim Salgado, por causa da "traição" à família. Mas, nos últimos meses, as gémeas Salgado têm vindo a reaproximar-se e, ao mesmo tempo, tem sido levantada a possibilidade de Ana Maria Salgado alterar o teor do seu depoimento, até agora favorável a Pinto da Costa (ver caixa) e altamente descredibilizante para Carolina.
Ao que apurou o JN, nos últimos dias têm havido contactos, ainda informais, que reforçam essa hipótese. Tudo terá começado a desenhar-se no fim-de-semana prolongado de Carnaval, altura em que Ana Maria e Carolina Salgado fizeram as pazes. O encontro terá sido em Cabeço de Vide, no Alentejo, onde a "ex" de Pinto da Costa vive agora com o seu novo namorado.
Há uma semana, no Tribunal de Gaia, no início do julgamento do chamado caso do "envelope", em que o dirigente do F. C. Porto é acusado de corrupção desportiva, verificou-se um encontro público em que as irmãs voltaram a falar. Mais tarde, já depois de Carolina ter sido agredida à porta do tribunal, voltaram a encontrar-se. Mas antes disso, Ana Maria transmitiu ao tribunal, através de um agente da PSP, que não se encontrava em "condições emocionais" para prestar depoimento, pedindo, por isso, dispensa. O desejo acabou por ser satisfeito, sexta-feira passada, pelo advogado do líder do clube azul-e-branco, que prescindiu do seu testemunho.
Ana tinha sido arrolada por Pinto da Costa e esperava-se que dissesse em tribunal que Carolina lhe confidenciara que não sabia o que estava no envelope e não ouvira a suposta conversa entre Pinto da Costa e o árbitro Augusto Duarte, na residência do presidente portista.
Todavia, o facto de o testemunho ter sido prescindido não significa que tenham acabado eventuais problemas para Pinto da Costa. Precisamente porque está ainda pendente o inquérito da PGR que procura investigar vários episódios ocorridos à margem do Apito Dourado.
O JN sabe que, neste inquérito, uma das preocupações tem sido a averiguação do património e condições de vida de Ana Maria Salgado, antes e depois do depoimento. Principalmente porque Carolina afiança que a irmã sempre viveu sob dificuldades com o marido e filhos, tendo necessitado várias vezes da sua ajuda financeira. Por essa razão, Carolina já chegou a dizer publicamente que a sua irmã foi "comprada" por Pinto da Costa. Ana Maria vive, com a sua família, numa vivenda arrendada em Famalicão. Antes disso, fundou, com o marido, uma empresa no ramo da canalização e pichelaria.
Se se concretizar o volte-face e vier a afirmar ter faltado à verdade, fica-se na expectativa sobre a explicação fornecida por Ana Maria para a prestação, inicial, de depoimento favorável ao presidente do F. C. Porto. De qualquer modo, seja qual for a versão verdadeira, a gémea Salgado deverá também ser alvo pelo menos de um processo por falso testemunho. Até ao momento, foi acusada de difamação, na sequência de duas queixas - da procuradora Maria José Morgado e do inspector da PJ, Sérgio Bagulho.