Suspeitos foram detidos em França, onde se mantêm sob custódia. Disputa de guarda de idosa na origem do crime.
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Fizeram perto de 1600 quilómetros de Annecy, em França, até Unhais da Serra, na Covilhã, para buscar a avó, de 83 anos, que sofre de Alzheimer. Mas o neto e um amigo francês envolveram-se numa violenta disputa com Alexandre e Pedro Marques, filhos da idosa, que acabaram assassinados à pancada. Os corpos foram parcialmente incendiados e abandonados na serra. Com vestígios de ADN como prova, na segunda-feira as autoridades detiveram os dois suspeitos, que devem ser hoje levados a um juiz francês para aplicação de medidas de coação, antes de serem extraditados para Portugal.
Foi uma viagem relâmpago. O sobrinho e o amigo, com idades entre os 25 e os 30 anos, ficaram pouco mais de 24 horas em Portugal. Chegaram nas vésperas do desaparecimento de Alexandre e Pedro, de 55 e 61 anos. Foram à casa da avó, onde se gerou a discussão, cujos contornos são desconhecidos, mas que, tudo o indica, estarão ligados à custódia da idosa. O sobrinho estava convencido de que os tios não cuidavam da avó e que viviam à custa dela para alimentar o vício da droga.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, as vítimas foram espancadas com extrema violência e sucumbiram às graves lesões sofridas. Com Alexandre e Pedro mortos, os dois suspeitos decidiram esconder o crime. Colocaram os cadáveres no carro e percorreram cerca de 12 quilómetros para chegar a uma zona desabitada, onde os regaram com combustível.
Mas a combustão foi insuficiente para cumprir o objetivo e os corpos ficaram só parcialmente carbonizados. A dupla abandonou o local e regressou a França levando a idosa, Rosa Marques, que regressou a Portugal para assistir aos funerais.
O sobrinho e o amigo voltaram então a fazer 1600 quilómetros para chegar a Annecy, onde, na segunda-feira, foram detidos pelas autoridades locais, ao abrigo de uma decisão europeia de investigação (DEI).
A investigação da PJ da Guarda tinha permitido recolher vestígios e amostras de perfis de ADN, concluindo-se que pelo menos um dos homicidas era familiar das vítimas. Como já era sabido que o sobrinho tinha viajado para Portugal e regressado a França, foi pedida a colaboração das autoridades de Annecy.
Os dois homens foram alvo de buscas e de recolha de amostras de ADN que permitiram consolidar a prova já existente.
“Após múltiplas diligências e recolha de relevantes elementos de prova, com intervenção do Laboratório de Polícia Científica da PJ, foi possível alicerçar os fundamentos da suspeita do duplo homicídio, ocorrido em Unhais da Serra, no passado mês de fevereiro”, explicou a PJ.
Vila em choque
População já desconfiava de familiar
Na pequena e pacata vila de Unhais da Serra, a detenção de um amigo e do sobrinho de Alexandre e Pedro Marques não surpreendeu a população. “Veio a confirmar-se aquilo que toda a gente desconfiava desde o início. Eles desapareceram precisamente no dia em que o sobrinho veio cá buscar a avó” afirmou ao JN, José Guerreiro, presidente da Junta de Unhais da Serra.
Pormenores
Carro examinado
O veículo que terá servido para transportar os cadáveres foi apreendido em França e está a ser alvo de perícias que poderão confirmar as convicções dos investigadores.
PJ acompanhou
Dois inspetores da Polícia Judiciária da Guarda acompanharam as buscas e diligências realizadas em França desde o início da semana.
Limpeza da casa
Depois dos homicídios, a divisão da casa onde os irmãos foram mortos foi alvo de uma profunda limpeza que, porém, não apagou os vestígios hemáticos, entretanto recolhidos pela PJ.