Pertenceram a milícias armadas do Estado Islâmico a atuar no Iraque e foram detidos pela Polícia Judiciária na zona da linha de Cascais. Estão em prisão preventiva.
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Portugal acolheu-os como refugiados, vítimas do Estado Islâmico (ou ISIS, na sigla em inglês) durante a guerra na Síria e no Iraque. Mas, na realidade, os dois irmãos, de 32 e 34 anos, já integravam as fileiras dos terroristas pouco antes de pedirem asilo humanitário a Portugal. Logo que chegaram cá, em 2017, passaram a ser monitorizados pela Polícia Judiciária (PJ) que os deteve, agora, na Grande Lisboa, porque iam sair do país e havia o risco de lhes perder o rasto. Os iraquianos estão indiciados por crimes de adesão e apoio a organização terrorista, de terrorismo internacional e crimes contra a Humanidade. Foram levados ao Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa na quinta-feira e ficaram em prisão preventiva.
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De acordo com informações recolhidas pelo JN, os irmãos fizeram parte, pelo menos em 2016, de milícias a operar numa zona de grande influência do ISIS, em Mossul, Norte do Iraque, perto das fronteiras da Síria e Turquia. As autoridades iraquianas têm mandados de captura contra ambos por crimes violentos, como homicídios e raptos. "As provas recolhidas indiciam que estes dois indivíduos assumiram distintas posições na estrutura do ISIS/Daesh, sendo os mesmos igualmente objeto de investigação por parte das competentes Autoridades Judiciárias iraquianas", explica a PJ.
Por motivos ainda desconhecidos, decidiram abandonar o Iraque e, ao que tudo indica, juntaram-se aos milhares de refugiados sírios que abandonaram os locais de guerra para chegar à Grécia. De lá, vieram para Portugal, onde pediram formalmente asilo. Tal como perto de outras três mil pessoas, beneficiaram do Estatuto de Refugiado concedido pelo Ministério da Administração Interna e do Estatuto de Proteção Internacional enquanto aguardavam pelo Título de Residência para Refugiado, que também lhes foi atribuído.
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Monitorização total
Mas logo na altura, em 2017, o passado dos dois irmãos levantou dúvidas ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que remeteu as suspeitas à Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da PJ. Nunca mais saíram do radar dos inspetores, que passaram a monitorizar deslocações, contactos com terceiros e comunicações.
Primeiro, viveram, nos arredores de Lisboa, na total dependência do Estado português, que lhes deu meios para sobreviver, como habitação, alimentação e algum dinheiro. Depois, arranjaram trabalhos esporádicos. Um num call center e o outro num restaurante. Foram mudando de casa até chegarem à zona da linha de Cascais, onde na quarta-feira foram detidos e alvo de buscas por parte dos elementos da UNCT.
Nas últimas semanas, a PJ percebeu que os irmãos estavam prestes a abandonar o país. O risco de lhes perder o rasto era grande e, pelo seguro, as autoridades decidiram detê-los.
A colaboração entre PJ, SEF, e UNITAD, uma organização da ONU que investiga crimes cometidos pelo ISIS e fez a ligação com as autoridades iraquianas, permitiu recolher as provas de que eram terroristas ativos.