Pedidos seis anos de cadeia para antigo "dono" da SAD, que está preso. Dinheiro investido foi desviado de empresa.
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O italiano Omar Scafuro, que presidiu à SAD do Beira-Mar até ser destituído, num processo que terminaria com a insolvência da sociedade em 2015, está preso em Espanha e arrisca entre cinco e 16 anos de cadeia por causa de um desfalque de mais de meio milhão de euros na empresa na qual era diretor-geral, dinheiro que usou, sem autorização, para controlar a gestão do clube aveirense. Em causa estão crimes de apropriação indevida, gestão danosa e burla.
Na cadeia desde fevereiro, Omar Scafuro está a ser julgado em Saragoça na sequência de um processo resultante de uma queixa da empresa onde trabalhava, a Pieralisi España, de maquinaria para produção de azeite. Em dezembro de 2013, Scafuro terá começado a transferir um total de 542 400 euros que, de acordo com a acusação, citado pela Imprensa espanhola, aproveitou, sem o conhecimento da empresa, para se tornar, em nome pessoal, o principal acionista da SAD do Beira-Mar.
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Ao todo, segundo a acusação, o italiano fez 11 transferências com dinheiro de dívidas pagas à Pieralesi que desviava para o clube de Aveiro, através de empresas que controlava.
A Pieralisi, cujo advogado pediu em julgamento uma pena de seis anos de cadeia para Scafuro (o seu advogado contenta-se com dois) reclama mais 678 336 euros, o valor dos prejuízos causados com o contrato de patrocínio "ilicitamente contraído" junto do Beira-Mar.
Em tribunal, Omar terá justificado a sua entrada na SAD como um investimento na imagem da empresa em Portugal, referindo que tomou conta da SAD por "honestidade" e "responsabilidade" e para tentar devolver o dinheiro investido pela empresa. O antigo dirigente disse ainda que não esperava que a situação financeira do clube fosse tão má e que não a conseguiu resolver, apesar de ter tentado reencaminhar, também de forma ilegal, 175 mil euros em direitos televisivos para a Pieralesi.
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Falência culposa
A entrada de Scafuro na SAD culminaria, cerca de um ano depois, em 2015, com a sua falência, deixando dívidas na casa dos 11 milhões de euros, 3,1 dos quais ao clube de Aveiro, que acabaria por descer aos escalões distritais, depois de, por dificuldades financeiras, não ter podido inscrever a equipa nas competições nacionais. Em 2019, o clube conseguiu regressar ao Campeonato de Portugal.
Ainda no ano passado, em novembro, a falência da SAD do Beira-Mar seria declarada culposa pelo tribunal, num processo de qualificação de insolvência requerido por vários ex-jogadores do clube e outros credores.
Scafuro e Majid Pishyar e Patrícia Bostyn, também ex-administradores, foram considerados culpados de violação dos deveres de elaboração, fiscalização e depósito das contas e condenados a indemnizar os mais de 60 credores da SAD em cerca de 11 milhões de euros.
Cheques carecas
Scafuro chegou a ser acusado pelo MP em Portugal dos crimes de abuso de confiança fiscal e de cheques sem cobertura, em dois processos distintos.
Inibidos de administrar
Por causa da insolvência culposa do Beira-Mar, Scafuro, Pishyar e Bostyn foram inibidos "de admnistrar património de terceiros".