O antigo primeiro-ministro disse esta quarta-feira em entrevista à TVI que foi "acusado por novos crimes" e apontou crítica à decisão do juiz Ivo Rosa por ter referido que havia indícios de um crime de corrupção sem demonstração de ato concreto. Também disse que a escolha do juiz Carlos Alexandre foi manipulada.
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José Sócrates rejeitou a ter sido corrompido por Carlos Santos Silva e acusou Ivo Rosa de lhe ter atribuído um crime pelo qual nunca foi confrontado ao longo dos últimos sete anos que dura o caso da "Operação Marquês".
"Ele [Ivo Rosa] considerou que havia indícios para levar isto a tribunal, mas eu nunca pude apresentar provas contra esta acusação. Nunca ninguém me disse que Carlos Santos Silva me corrompeu. Antes de culpar alguém em tribunal, tem de haver o direito de se defender em inquérito ou em instrução", disse José Sócrates que garantiu que se iria defender de crime, que Ivo Rosa considerou prescrito.
"É um crime novo. Nunca disseram ao Carlos Santos Silva que era um corruptor ativo. Aos visados nunca foi dada hipótese de defesa. Aquilo que há de mais diabólico na justiça: que é vou te levar a julgamento por um crime que te escondi. Nem te poderás defender no futuro porque prescreveu. Estão enganados, porque eu vou me defender disso", afirmou o antigo primeiro-ministro que deixou antever um recurso próprio para o Tribunal da Relação de Lisboa.
Ao referir o caso como uma campanha de difamação, Sócrates disse ter sido um "escândalo" a escolha do juiz de instrução em 2014. "A escolha do juiz Carlos Alexandre foi manipulada. Isto é um caso político. Foi uma campanha de difamação", disse Sócrates.
Esta é a primeira grande entrevista que dá José Sócrates, cinco dias depois de ter sido conhecida a decisão instrutória, em que foi pronunciado por seis crimes de branqueamento de capitais e falsificação de documentos.
Recorde-se que o juiz Ivo Rosa considerou que os mais de 1,7 milhões de euros que Carlos Santos Silva fez chegar à esfera de José Sócrates, através de entregas em numerário feitas por terceiros e do pagamento de despesas pessoais do ex-primeiro-ministro, indiciam que este foi subornado pelo empresário ligado ao grupo Lena. Só não se sabe porquê.
Sócrates, chefe de Governo de 2005 a 2011, estava acusado de 31 crimes, dos quais 25 caíram na Instrução. Já Santos Silva viu desaparecer 27 dos 33 que lhe tinham sido imputados. Todos relacionados com o alegado suborno dado como prescrito.
Para o juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal (Ticão), o modo como o dinheiro foi movimentado e usufruído permite "presumir que as entregas em numerário tinham como objetivo criar um clima geral de simpatia ou de permeabilidade por parte do primeiro-ministro", fazendo deste um dos contactos de Santos Silva para obter informações para o Grupo Lena. Segundo Ivo Rosa, houve "um mercadejar com o cargo por parte do primeiro-ministro [...] e, por conseguinte, uma invasão do campo da "autonomia intencional" do Estado".
O crime de branqueamento de capitais de que o antigo primeiro-ministro José Sócrates e o empresário Carlos Santos Silva vão a julgamento no processo Operação Marquês tem uma moldura penal de dois a 12 anos de prisão.