Na primeira vez que falou para fora da cadeia, há menos de uma semana, Sócrates prometeu que faria a sua "legítima defesa" sempre que entendesse. Ontem voltou a fazê-lo: "Não lhes faço o favor de ficar calado".
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Numa carta dirigida à RTP, o ex-primeiro-ministro - que está preso preventivamente na prisão de Évora, suspeito dos crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção - volta a mostrar que tem pouca vontade de ficar calado. E que, sempre que puder, tentará fazer a sua "legítima defesa", procurando desmentir ou rebater os factos que são relatados pela Comunicação Social e que estarão na base do processo.
"É certo que é difícil eu falar. Estou preso, mas não lhes faço o favor de ficar calado". Termina, assim, a carta que enviou à RTP, ontem citada pelo "Telejornal", e que é a terceira mensagem que envia para fora da cadeia desde o dia 24, segunda-feira, data em que ficou em prisão preventiva depois de ter estado três dias detido para interrogatório. Desta vez, reagiu a uma investigação sobre a venda das casas da sua mãe e a casa de Paris.
Segundo a RTP, a carta foi ditada ao telefone por Sócrates ao seu advogado, João Araújo, no sábado, dia do início do congresso do PS, mas pedindo-lhe que só fosse divulgada ontem.
Trata-se de uma reação ao programa de investigação "Sexta às 9", emitido sexta-feira, onde foram levantadas suspeitas em relação ao empolamento para "duas vezes acima do preço do mercado" do preço de venda de duas casas da mãe de Sócrates, no Cacém, compradas pelo seu amigo, Carlos Santos Silva, também preso preventivamente no âmbito deste processo.
Sobre Paris, Sócrates nega que alguma vez tenha tido casa própria. Diz que começou por viver num apartamento arrendado. Entre setembro de 2012 e junho de 2013, viveu na casa que lhe foi "emprestada" pelo amigo, que a comprou para "restaurar, arrendar ou vender- hoje à venda por quatro milhões de euros - e de onde saiu quando entrou em obras para viver em hotéis. Atualmente tem um apartamento alugado.
Por três vezes falou
A primeira vez que Sócrates falou para o exterior foi na noite de quarta-feira, 26 de novembro, em que fez chegar uma carta às redações da rádio TSF e do jornal "Público" - e que o JN também citou na sua edição de dia 27 - insurgindo-se contra o "crime" das "fugas de informação" e contra a sua detenção.
"A minha detenção para interrogatório foi um abuso e o espetáculo montado em torno dela uma infâmia; as imputações que me são dirigidas são absurdas, injustas e infundamentadas; a decisão de me colocar em prisão preventiva é injustificada e constitui uma humilhação gratuita", escreveu, deixando a garantia: "Será em legítima defesa que irei, conforme for entendendo, desmentir as falsidades lançadas sobre mim e responsabilizar os que as engendraram".
No sábado, dia 29, foi a vez do "Expresso" fazer manchete com uma frase de Sócrates, dita ao telefone ao editor de política do jornal: "Sinto-me mais livre do que nunca".
Sócrates ligou para o jornal na tarde de sexta-feira, mesmo em cima da hora de fecho, acedendo ao pedido para uma entrevista (que está apenas dependente da autorização da Direção Geral dos Serviços Prisionais), onde promete "falar de tudo e com detalhe, respondendo como se estivesse num interrogatório". Aproveitou a ocasião para mostrar a sua fibra: "Só deixa de ser livre quem perde a dignidade. Sinto-me mais livre do que nunca", disse. E assegurou a manchete.