Mais de uma dezena de arguidos, entre atletas, técnicos e dirigentes, em operação que apreendeu substâncias proibidas e instrumentos para as administrar aos ciclistas.
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A Polícia Judiciária (PJ) deteve o diretor desportivo e o massagista da equipa de ciclismo W52-F. C. Porto, suspeitos de crimes relacionados com a utilização de produtos e equipamentos na dopagem de atletas. Além da detenção de Nuno Ribeiro e José Rodrigues, a PJ constituiu arguidos mais cerca de uma dezena de atletas e pessoal técnico ligado à equipa, que já nem chegou a participar na terceira etapa do Grande Prémio de Ciclismo O Jogo.
Nuno Ribeiro foi detido no Hotel Turismo de Trancoso e foi o próprio a informar a organização de que a equipa, umas das favoritas a vencer a prova, não iria alinhar. Na altura, já estavam no terreno 120 inspetores e vários procuradores da República que davam cumprimento a dezenas de mandados de busca, do Norte ao Sul do país, em instalações da W52 e em casa de dirigentes, pessoal técnico e atletas. O segundo detido é José Rodrigues que, além de massagista da W52, é também diretor desportivo da equipa de ciclismo Fortunna Maia, esta alheia ao caso.
A operação, que partiu de uma investigação que a Diretoria do Norte da PJ tinha em curso há cerca de um ano, foi designada "Prova Limpa", uma vez que visava a "deteção de métodos proibidos e substâncias ilícitas suscetíveis de adulterar a verdade desportiva em provas do ciclismo profissional", informou a Judiciária em comunicado.
"No decurso das diligências foram apreendidas diversas substâncias e instrumentos clínicos, usados no treino dos atletas e com impacto no seu rendimento desportivo", acrescenta a PJ. Na prática, trata-se de doping e dos instrumentos necessários à sua aplicação nos atletas, designadamente através de transfusões sanguíneas.
A operação envolveu elementos da Judiciária do Porto, das diretorias do Centro e do Sul, da Unidade Nacional de Combate à Corrupção e dos departamentos de Braga, Guarda e Vila Real, bem como da Autoridade Antidopagem de Portugal.
A investigação da PJ vai continuar, designadamente no sentido de apurar a proveniência e o circuito das substâncias proibidas apreendidas até chegarem aos atletas. Em causa poderão estar, pelo menos, os crimes de tráfico de substâncias e métodos proibidos e administração de substâncias e métodos proibidos, previstos na Lei Antidopagem no Desporto.
Nuno Ribeiro e José Rodrigues serão hoje levados ao Tribunal de Instrução Criminal do Porto, para primeiro interrogatório judicial e atribuição de medidas de coação.
"Nada de suspeito" no armazém da equipa
"Ainda não consegui falar com os elementos da equipa e, por isso, não tenho grandes informações", disse ao JN Adriano Quintanilha, proprietário da W52. "Acompanhei as diligências no armazém onde é guardado o material da equipa e sei que não encontraram nada suspeito", explicou. De resto, aguarda "com serenidade". "Se algum ciclista ou diretor estiver ligado a algo grave, veremos então que atitude tomar", afirma.
Troféu retirado após vencer Volta
Nuno Ribeiro, antigo corredor, venceu a Volta a Portugal em 2009, mas o troféu foi-lhe retirado, após ter sido suspenso por doping durante 24 meses. Enquanto diretor desportivo da W52-F. C. Porto, ganhou as últimas seis edições da Volta a Portugal, duas das quais (2017 e 2018 com Raúl Alarcón) foram entretanto anuladas.
Alarcón quatro anos suspenso
No mês passado, o Tribunal Arbitral de Desporto confirmou a suspensão de quatro anos a Raúl Alarcón atribuída pela União Ciclista Internacional em 2021, devido ao "uso de métodos e/ou substâncias proibidas". O tribunal considerou que as "anomalias" detetadas nos exames ao ciclista "coincidem com a Volta a Portugal de 2015, 2017 e 2018", pelo que anulou as vitórias das duas últimas edições a Raúl Alarcón e à W52-F. C. Porto. Alarcón já anunciou que vai recorrer para um tribunal federal da Suíça.