Dois jovens começam a ser julgados, esta segunda-feira, no Tribunal de Setúbal, por terem matado um colega que, tal como eles, estava institucionalizado no Centro Jovem Tabor, em Palmela, em outubro de 2020. Lucas Miranda, então com 15 anos, foi alvo de estrangulado e enforcado, neste caso para simular um suicídio, antes de ser atirado a um poço.
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O Tribunal de Setúbal tentará apurar se os arguidos, Leandro Vultos, agora com 19 anos, e Ricardo Cochicho, de 18, mataram Lucas Miranda a seu pedido. A acusação do Ministério Público (MP) diz que este adolescente, institucionalizado a pedido da sua mãe adotiva, verbalizou várias vezes que "estava farto", "queria morrer" e "só não se suicidava por falta de coragem".
Mas os arguidos agiram movidos pelo prazer de assistir à agonia e morte de Lucas, "aproveitando o estado de espírito" e a "profunda depressão" do mesmo, defende o MP.
Lucas ingressou no Centro Tabor duas semanas antes de morrer e contra a sua vontade. Fugiu, mas foi encontrado. E, segundo o MP, os arguidos interpretaram os desabafos de Lucas como um pedido para que o matassem.
Foi neste contexto que o agora arguido Leandro Vultos lhe perguntou se queria experimentar a sensação de perder os sentidos, através de um golpe mata-leão, que consiste em apertar o pescoço.
Depois de Lucas recuperar os sentidos, os outros dois perguntaram se tinha a certeza que era aquilo que queria, respondendo o outro, alegadamente, que sim. Dois dias depois, os três dirigiram-se para uma zona de mato e terão cometido o crime. Leandro asfixiou Lucas, desta vez até à morte. Depois, para simular um suicídio, enforcaram-no num sobreiro.
No dia seguinte, os dois suspeitos terão regressado ao local do crime e reparado que o ramo do sobreiro cedera e que Lucas tinha os joelhos no chão. Temendo que a polícia não acreditasse no suicídio, enrolaram o corpo num lençol e atiraram-no a um poço.
Os dois jovens nunca admitiram o que fizeram.
O corpo viria a ser descoberto meses depois, em fevereiro de 2021, pela Polícia Judiciária de Setúbal, após a denúncia de um dos jovens ao pai, que se dirigiu à PJ e contou o que lhe tinha sido relatado.
Os suspeitos foram detidos em março de 2021, mas o juiz de instrução criminal que os ouviu libertou-os, contra a vontade do Ministério Público, e considerou que em causa estava o crime de morte a pedido da vítima.
Leandro está acusado de homicídio qualificado e profanação de cadáver, enquanto Ricardo vai a julgamento como cúmplice de ambos os crimes.