Julgamento de violência doméstica começou apesar da ausência do arguido e da vítima
Apesar de o arguido e a alegada vítima não terem comparecido, alegando ambos que se "sentiram mal", o Tribunal de Braga começou esta terça-feira a julgar um caso de violência doméstica: o homem, de nome José, está acusado de tentar matar a ex-mulher com uma catanada na cabeça, tendo ela respondido com uma facada no abdómen, mas em legítima defesa, em outubro de 2019, em Cabanelas, Vila Verde.
Corpo do artigo
Os juízes começaram a ouvir as testemunhas, uma delas um militar da GNR, que acorreu ao local da contenda e que disse que o arguido terá proferido a seguinte ameaça: "Se ela sair agora de casa, mato-a!". A suposta vítima estava em casa e ele no exterior.
O GNR, que falou como testemunha, disse que o arguido, José Sousa, estava exaltado e "pouco lúcido", e referiu que foi ele quem apreendeu a catana na residência do casal e chamou a PJ.
Contou que a Guarda já por várias vezes tinha sido chamada à moradia do casal, normalmente pela mulher, Rosa: "casos houve que foram comunicados ao Ministério Público, outros eram apenas questiúnculas", disse.
O que levou a magistrada do Ministério Público a solicitar ao Tribunal que pedisse ao de Vila Verde o envio de um outro processo de violência doméstica entre o casal, caso esse já julgado,
No caso, a defesa tenta demonstrar que foi a mulher quem primeiro agrediu o companheiro, enquanto a acusação diz que foi ele quem avançou para lhe dar com a catana na cabeça, tendo-lhe acertado numa mão. Ela contra-atacou acertando-lhe com uma faca na barriga.
O arguido responde por um crime de violência doméstica e outro de homicídio qualificado na forma tentada.
O coletivo de juízes ouviu, ainda, três outras testemunhas, entre elas a filha da vítima e um agente da PJ/Braga.
Ciúmes
Segundo a acusação, o arguido era "bastante ciumento" e desde o início do casamento, o quarto, celebrado em novembro de 2016, começou a injuriar e ameaçar de morte a mulher.
O arguido terá ainda obrigado a mulher a ter relações sexuais com ele.
O casal divorciou-se em agosto de 2019 mas continuou a viver na mesma habitação, embora dormindo em quartos separados, até à concretização da venda da casa.
No dia 03 de outubro de 2019, quando a ex-mulher estava a arranjar as coisas para sair de casa, o arguido terá tentado atingir a mulher com uma catana na cabeça, mas ela conseguiu defender-se, ficando ferida numa mão.
A mulher, "em legítima defesa", atingiu o homem com uma faca no abdómen e atirou-lhe uma jarra à cabeça, tendo o arguido abandonado o local.
Intenção de matar
"O arguido agiu com o propósito concretizado de atingir a sua ex-esposa com uma catana numa zona do corpo onde sabia estar alojados órgãos vitais, bem sabendo que ao atuar desse modo lhe podia provocar um corte profundo e assim a poderia matar, resultado com o qual se conformou e quis, só o não logrando obter por circunstâncias alheias à sua vontade", refere a acusação.
O arguido ainda requereu a abertura de instrução, para tentar não ir a julgamento, mas sem sucesso.
Pedia ainda que a ex-mulher fosse pronunciada por homicídio tentado, mas também aqui o juiz não lhe deu razão, considerando que ela atuou em legítima defesa.
No requerimento de abertura de instrução, o arguido negou tudo, assegurando que todas as relações sexuais mantidas com a mulher foram consentidas e que nunca a tratou mal.
Disse ainda que nada tinha contra a mulher e que nunca se opôs a que a mesma abandonasse a casa, afirmando que até "já tinha colocado anúncio para encontrar outra mulher".
Quanto à catana, disse que pegou nela para arrombar a porta do quarto da mulher, porque ela não abria a porta e ele queria ver o boletim meteorológico na televisão.
A mulher, alegou ainda o arguido, ter-se-á ferido acidentalmente na catana.