Julgamento do sequestro do triplo homicida de Vila Fria arrasta-se para ouvir testemunha presa em França
O Tribunal de Viana do Castelo teve esta quinta-feira de remarcar a audição de uma das principais testemunhas do caso do sequestro e agressão, há seis anos, de Rui Amorim, o triplo homicida de Vila Fria, por Hélder Bianchi, um dos cabecilhas do extinto “gangue de Valbom”.
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A referida testemunha, Francisco Martins, de alcunha “Zé Francês”, tido como um dos maiores traficantes de droga portugueses, está a cumprir pena de prisão em França e terá sido transferido do estabelecimento prisional (EP) de Nanterre para o de Orleães, que entretanto recusou promover a audição do recluso por videoconferência.
Apesar de o ter localizado, o tribunal de Viana do Castelo não conseguiu que o seu testemunho seja ouvido, tendo efetuado hoje um novo pedido e agendado nova sessão para 14 de novembro, às 9.30 horas.
Francisco Martins é tido como uma peça fundamental no processo, já que constitui a única testemunha que pode, de viva voz, confirmar a presença de Hélder Bianchi em Viana do Castelo no dia do sequestro de Rui Amorim, uma vez que alegadamente se encontrou com ele na loja do Leclerc de Darque.
Recorde-se que o Ministério Público (MP) acusa Bianchi de ter procurado Rui Amorim (conhecido por ter matado à facada dois tios e um primo em Vila Fria, em 1995) a 2 de julho de 2018, em casa dos pais, em Santa Marta de Portuzelo, freguesia de Viana do Castelo, na companhia de outros homens, e de o ter sequestrado e agredido para o obrigar a falar sobre o desaparecimento, na noite anterior, do seu amigo Fernando Borges, de alcunha “Trico”.
Na primeira sessão do julgamento, Amorim, recluso no EP de Vale de Judeus, falou ao tribunal através de videoconferência, relatando o seu sequestro, mas recusando sempre incriminar Hélder Bianchi, justificando ter "falhas de memória".
"Fiquei num estado lastimável. Tenho uma vaga ideia do que se passou”, declarou, acrescentando que não quer "incriminar ninguém" se não tem a certeza. "Ainda tenho falhas de memória", referiu.
Face à posição de Amorim, foram lidos em tribunal depoimentos seus anteriores, em que relatou que no dia do sequestro se encontrava em casa dos pais quando tocaram à campainha. Foi ao portão, onde estava "um homem desconhecido" que lhe disse que "precisava ir com ele". Depois, revelou, surgiu um segundo homem que lhe "aplicou um golpe de mata leão" e outros quatro que o agrediram a soco e pontapés e o sequestraram.
Numa rotunda, o veículo onde seguiam parou e passou um carro da PSP em direção a um acidente no acesso à A28. Numa altura em que os seus alegados agressores o tentaram mudar de viatura, escapou e foi pedir ajuda à polícia, tendo sido transportado para o hospital. Segundo o triplo homicida, os seus agressores “não deram explicação” para a situação, apenas “disseram que o queriam matar e enterrar”.
A Procuradora do MP referiu, na primeira sessão, que a triangulação do telemóvel de Hélder Bianchi feita pela Poliícia Judiciária permitiu implicá-lo no caso, dado que o seu percurso no dia 2 de julho coincidiu com os passos relatados por Rui Amorim.
O caso terá acontecido durante uma saída precária de Rui Amorim do estabelecimento prisional de Coimbra, no dia seguinte a ter-se encontrado, na Póvoa de Varzim, com “Trico”, que “nunca mais deu notícias”. O triplo homicida já foi, entretanto, absolvido no caso da sua morte.