Em junho de 2021, o JN revelava que havia uma nova droga sintética a ser consumida nas prisões: a K4. Já nessa altura, a droga, indetetável à vista desarmada, chegava aos reclusos embebida num simples papel de carta, era fumada e provocava surtos psicóticos nos consumidores, tornando-os extremamente violentos.
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O primeiro alerta para a droga apreendida, nesta terça-feira, na cadeia de Paços de Ferreira chegou por um relatório de informações dos Serviços de Segurança, datado de 3 de maio de 2021 e distribuído pelos responsáveis das cadeias portuguesas, que dava conta de "substâncias apreendidas no estabelecimento prisional do Funchal identificadas como Fenmetrazina, estimulante de efeito semelhante às anfetaminas".
O mesmo relatório definia a K4 como um "canabinóide sintético, muito poderoso e que pode causar a morte" e explicava que a droga entra nas cadeias através de cartas endereçadas aos presos embebidas nesta nova substância. Na posse do papel, que pode conter o desenho de uma criança ou uma declaração de amor para afastar suspeitas, o recluso corta um pequeno pedaço, coloca algum tabaco no meio, enrola-o como se fosse um cigarro e fuma-o.
Surtos psicóticos e ataques de pânico
O consumo de K4 provoca comportamentos violentos e irracionais, agressividade e fúria, demonstrados através de surtos psicóticos, e ataques de pânico. Entre os reclusos sob o efeito desta nova droga foram identificadas, igualmente, paralisias, sobretudo das pernas e quadril, pesadelos que levam a insónias e suor excessivo.
Também houve quem sofresse de náuseas, tremores, dores de cabeça, cansaço extremo, diarreia, vómitos e convulsões. Vários reclusos necessitaram de assistência médica depois de fumarem esta droga que, no meio prisional, tem várias denominações, entre as quais "ácidos", "spice" e "K2".
Folha A4 pode render 2000 euros
Terá sido uma troca de correspondência entre dois presos que desvendou o mistério da K4. Numa carta apreendida durante uma busca a uma cela da cadeia de Silves, um recluso detido noutro estabelecimento contava que o papel em que escrevia era “ganza que os rapazes estão a fumar”. “É igual a uma folha de caderno A4 de linhas e para fumar é picadinho, misturado com tabaco”.
O autor da missiva destacava ainda o elevado lucro que poderia ser obtido com o tráfico desta droga. “De cada linha da folha faz-se 15 pedaços... ao todo, dá 2000 euros”, assegurava o preso.
Este alertava, no entanto, para os perigos que a nova substância apresenta e aconselhava o amigo a não experimentar a K4. “A dependência é fácil e cria cancro. Por isso, fica longe disso e não fumes”, avisava.
Depois de terem conhecimento desta carta, os guardas prisionais começaram a prestar atenção aos pequenos pedaços de papel “cortados em linhas” encontrados em várias celas.