"Estou cansada. Dormi pouco e já ando há muitos anos nisto. Hoje a casa vai abrir como normalmente. Mas com mais calma vou pensar no meu futuro", contou Maria da Conceição António, conhecida por Kikas, de 65 anos, dona do bar de alterne La Siesta, em Santarém, onde o Serviço de Estrangeiro e Fronteiras (SEF) identificou, na noite de quinta para sexta-feira, cerca de 50 mulheres estrangeiras, metade das quais em situação ilegal no nosso país. Foram ainda apreendidos mais de 60 mil euros em dinheiro e diversa documentação.
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Fonte do SEF garantiu, ao JN, que esta será "uma das maiores casas de alterne no país". No mesmo espaço, que até tem piscina, funciona um restaurante e o bar de alterne. Há quartos onde as mulheres dormem e é também ali que Kikas reside.
A empresária está desde 2003 à frente do La Siesta, um estabelecimento que se diz ter uma clientela eclética, vinda de todas as classes sociais e profissões, desde figuras públicas e jovens que querem uma despedida de solteiro mais apimentada.
Bar aberto
Este sábado, no Facebook, o bar anunciava, às 16.42 horas: "Estamos à vossa espera até às 4h. Bar, restauração e a melhor companhia é aqui no La Siesta. Atreve-te". À mesma hora, dois dias antes, cerca de 30 inspetores do SEF entraram e passaram tudo a pente fino até às primeiras horas da madrugada de sexta, dando seguimento a uma investigação começada em 2019 por "fortes suspeitas de tráfico de pessoas para exploração sexual".
A pandemia impediu a concretização da operação mais cedo, apesar de os inspetores saberem que a atividade continuou à porta fechada, mesmo no confinamento. Ontem, em comunicado, o SEF informou que surgiram situações que indiciavam, também, a prática dos crimes de lenocínio e branqueamento de capitais.
"Esta atividade criminosa possibilitou, ao longo de dezenas de anos, que a agora arguida auferisse avultados lucros indevidos com a exploração sexual de mulheres estrangeiras, cuja atividade de cariz sexual indicia ocorrências de tráfico de pessoas", refere o Serviço. Foram identificadas cerca de 50 mulheres e apreendidos mais 60 mil euros, que se estavam no quarto da arguida.
Esta não foi é a primeira vez que Maria da Conceição António enfrentou as autoridades e a Justiça pelas mesmas razões. Em 2009 foi julgada e absolvida dos crimes de lenocínio e ajuda à imigração ilegal.
Defende a legalização da prostituição
A Maria da Conceição nunca incomodou a exposição pública e sempre defendeu a legalização da prostituição, embora negasse ser esse o seu negócio. O que as mulheres "fazem nos quartos é com elas", disse em entrevistas. Lucra com as bebidas, o restaurante e a residencial onde as funcionárias dormem.