Num armazém dos arredores da Feira, um argentino, um colombiano e um português, todos com largo passado criminal, montaram um laboratório de transformação de pasta de coca em cocaína. Produziam até dez quilos por dia, até a Polícia Judiciária os deter, na terça-feira. Dia em que também foi desmantelado o laboratório.
Corpo do artigo
De acordo com informações recolhidas pelo JN, os três homens começaram esta atividade há cerca de um ano e terão conseguido montar uma rede de clientes um pouco por todo o país, mas também no norte de Espanha, nomeadamente na Galiza. São suspeitos de importar a pasta de coca para depois a encaminhar para o laboratório da Feira, concelho onde também residiam.
“O laboratório tinha capacidade para produzir cinco a dez quilos por dia, conforme as necessidades do mercado. Não tinha meios para fabricar toneladas ou centenas de quilos. O negócio funcionava como uma pequena empresa, para não ser vistosa”, explicou o inspetor-chefe da PJ de Braga, Rogério Magalhães, que adiantou que a atividade dos suspeitos seria recente e que a investigação durou poucos meses.
O inquérito começou na PJ de Braga, por ter sido no Minho que a droga produzida no laboratório da Feira foi detetada pela primeira vez. E centrou-se, de início, no cidadão argentino, que já tinha cumprido uma pena de prisão em Portugal, há cerca de 20 anos. Este suspeito “procedia à venda e distribuição de avultadas quantidades de produto estupefaciente, contando com a colaboração de terceiros”. Usava uma identidade falsa, com a qual criou uma empresa que servia de fachada para importar a pasta de coca, adquirir os produtos necessários à transformação do produto em droga consumível e ainda para arrendar imóveis, como o armazém da Feira.
Produtos apreendidos
Nas buscas ao laboratório, que foi monitorizado por equipas da PJ durante largas semanas, os inspetores apreenderam centenas de litros de químicos, benzinas, ácidos e outros, bem como uma estrutura e parafernália aptas a produzir em “processo contínuo diário”. A PJ, que teve o apoio da GNR, apreendeu cerca de 15 quilogramas de pasta de coca e cocaína, suficientes para 75 mil doses individuais, bem como dezenas de quilogramas de precursores e substâncias de preparação.
Os três detidos são ouvidos, esta quinta-feira, em primeiro interrogatório no tribunal de Guimarães.
Tendência: tratar pasta na Europa multiplica lucros
Os narcotraficantes importam pasta de coca em vez da tradicional cocaína porque o produto base é mais barato na origem. Na América do Sul, um quilo de cocaína custa entre dois à três mil euros, mas a pasta tem um valor que pode ser dez vezes inferior, o que multiplica os lucros. A transformação em laboratórios clandestinos na Europa permite uma transformação mais rigorosa da pasta em cocaína. O estupefaciente acaba por ser de melhor qualidade. Outra vantagem prende-se com o facto de as polícias terem mais dificuldade em detetar a pasta de coca nas alfândegas.
Condenado no Peru
O suspeito português, detido pela PJ, já cumpriu uma pena de prisão no Peru. Em causa também estavam crimes relacionados com o tráfico de droga.
Vários crimes
Os três detidos, com idades entre os 54 e os 59 anos, estão indiciados por crimes de tráfico de estupefacientes, associação criminosa, branqueamento de capitais e falsificação de documentos.
Mais de 20 mil euros
Ao quilo, a cocaína está atualmente a ser vendida, em Portugal, por valores entre 23 e 25 mil euros.