Caso remonta a 2017. Conduta de gás terá sido furada por cabo da EDP. Donos querem ser indemnizados. Empresas contestam.
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Margarida Matos não contém a emoção ao reconhecer a cadeira de verga branca que, até há dois anos, era apenas mais uma peça de mobiliário do prédio que, hoje, pouco mais é do que uma fachada em pleno bairro de Alfama, no Centro Histórico de Lisboa.
Dois anos depois de, a 13 de agosto de 2017, uma explosão causada por uma fuga de gás ter ferido seis pessoas e quase destruído o número 59 da Rua dos Remédios, proprietários e arrendatários lutam em tribunal para ser ressarcidos em 1,7 milhões de euros por EDP, Lisboagás e C.M.E. - Construção e Manutenção Eletromecânica, a quem culpam pelo acidente.
Ao JN, as empresas negam ter qualquer responsabilidade no sucedido e o mais provável, lamenta o advogado dos lesados, Pedro Cabral, é que o processo se arraste por "mais três ou quatro anos" até que exista uma decisão final. Até lá, são mais de uma dezena as vidas em suspenso de quem, em minutos, perdeu a sua fonte de rendimento ou tudo aquilo que tinha.
Reconstrução custa 800 mil
Pedro Abrantes, proprietário do 1.º andar, estava de férias no México quando, em 2017, uma amiga lhe disse que achava que o seu prédio em Alfama estava a arder. A princípio, o professor universitário não acreditou, mas a confirmação acabou por levá-lo a pedir à mãe para, no próprio dia, ajudar como pudesse os seus arrendatários.
O casal com duas crianças perdera tudo no incêndio que atingiu o prédio após a explosão, incluindo roupas, brinquedos e material de trabalho, como computadores e máquinas fotográficas.
Uma dor que Abu Hanif e o casal de idosos a quem este arrendara uma loja no rés do chão do prédio de quatro pisos não estranham. Ele viu-se obrigado a encontrar um novo espaço para a sua loja, eles viram a sua mercearia reduzida a escombros e o rendimento de repente restrito a uma pensão de velhice de 640 euros.
Já a proprietária do segundo andar celebrara, menos de um mês antes, o contrato de promessa de venda da sua casa, mas foi obrigada, após esta ser destruída, a devolver o sinal, numa altura em que já investira o dinheiro. Os restantes ficaram sem o rendimento proporcionado pelo arrendamento, que, no caso de Pedro Abrantes, suportava a aquisição da casa.
São todos estas perdas - a que acresce a reconstrução do prédio, orçada em mais de 800 mil euros - que o grupo quer ver compensadas por EDP, Lisboagás e C.M.E.. Em causa, alegam os queixosos, está o facto de a peritagem ter concluído que a explosão se deveu a uma fuga de gás numa conduta na rua, perfurada por um cabo da EDP. Uma versão que as empresas prometem contestar em tribunal.
PORMENORES
Turistas feridos
Dois alemães de férias sofreram queimaduras graves ao fugirem pelas escadas em chamas. A explosão deu-se quando um deles ligou a água quente para tomar banho, no quarto piso.
Cheiro desde manhã
No dia da explosão, os bombeiros estiveram horas antes no local. O facto de não terem ordenado o corte de gás é invocado pela C.M.E. para rejeitar culpas. Já a Lisboagás defende que o incidente se deveu à intervenção de terceiros.