O chefe de cozinha Ljubomir Stanisic, acusado de ter corrompido um agente da PSP com garrafas de vinho e de rum para furar o confinamento, também vai responder por ter pedido informações sobre operações de fiscalização para que o músico Paulo Furtado, vulgo The Legendary Tigerman, pudesse atravessar a Ponte 25 de Abril sem ser incomodado pela Polícia. Paulo Furtado nega qualquer pedido para atravessar a ponte.
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De acordo com a acusação do Ministério Público a que o JN teve acesso, a estrela de televisão e figura do movimento da restauração "A Pão e Água" pediu ao agente da PSP, colocado sob escuta num processo de tráfico de droga, que verificasse se o músico podia atravessar a Ponte 25 de abril, durante o confinamento no mês de abril, sem ser incomodado pelas autoridades. Ljubomir quereria que Paulo Furtado fosse ter com ele na propriedade de Grândola.
Na conversa telefónica intercetada, o agente Nuno Marino disse saber que a PSP estava a realizar diariamente fiscalizações na ponte, mas, apesar de estar de folga, prontificou-se a ajudar. O polícia, acusado de corrupção e tráfico de droga, propôs escoltar o músico a partir da sua casa, situada na zona da Praça de Espanha, em Lisboa, até a Ponte 25 de abril.
A acusação refere, no entanto, não ter sido possível apurar se "Paulo Furtado tenha chegado a sair de Lisboa naquele domingo, dia 19 de Abril de 2020, ou que o tenha feito com a indicada ajuda do arguido Nuno Marino", adianta a acusação.
A assessoria de imprensa do músico assegurou, entretanto ao JN, que "a verdade é que não pediu ajuda a ninguém para atravessar clandestinamente a Ponte 25 de Abril para visitar um amigo, no período de confinamento, e não a atravessou. Cumpriu esse período com o mesmo rigor e paciência que foi pedido a todos portugueses".
Recorde-se que o cozinheiro português, que nos últimos dias esteve em greve de fome em frente à Assembleia da República, foi acusado pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) por suspeita de ter oferecido garrafas de vinho a um agente da PSP para que este o ajudasse a furar o confinamento obrigatório na altura da Páscoa, de forma a passar a quadra em Grândola. Embora Nuno Marino esteja acusado de tráfico, o reputado chefe nada tem a ver com este tipo de crime.
Ljubomir Stanisic, residente em Lisboa, terá, segundo o Ministério Público, telefonado, no dia 2 de abril, ao irmão do agente Nuno Marino dizendo que queria ir passar a semana com a mulher, os filhos, a irmã e a sogra na propriedade de que é dono, naquela vila de Setúbal. Contactado pelo irmão, o agente da PSP, também arguido no processo, ofereceu-se para ajudar o chefe de cozinha e a família a passarem a ponte 25 de Abril, onde é comum haver fiscalizações policiais por causa das restrições à circulação. Em troca, na sequência de uma chamada por WhatsApp entre ambos, feita nesse mesmo dia, Ljubomir entregou ao polícia duas garrafas de vinho e uma de conhaque ou rum, nota o documento. No dia seguinte, o próprio Nuno Marino usou o carro pessoal para permitir que o empresário e a família passassem a ponte, embora não se tenha verificado fiscalização policial nessa altura.
A acusação foi deduzida, pelo procurador João Paulo Centeno, a 27 de novembro.