Vítima é promotor de vistos gold e recusou empréstimo a dono de bazar. Capangas pagos para extorquir dinheiro vindo de Hong Kong.
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O dono de um bazar chinês de Atouguia da Baleia, Peniche, e seis cúmplices estão a ser julgados no Tribunal de Loures por crimes de sequestro, extorsão e roubo. O empresário queria sacar 200 mil euros a um compatriota, um agente imobiliário especializado em investimentos realizados no âmbito do processo de atribuição de vistos gold, que lhe tinha recusado um empréstimo de 30 mil euros. A vítima tinha acabado de receber os 200 mil euros de uma transferência bancária vinda de Hong Kong e era esse o dinheiro cobiçado.
O caso começou em março do ano passado, numa dependência do Novo Banco, na Lourinhã. Lá, o dono do bazar, situado na localidade de Alto do Veríssimo, ouviu uma conversa entre a vítima, a mulher desta e o bancário. O promotor de vistos gold confidenciava ao bancário que estava prestes a receber aquela avultada transferência.
O arguido, Qinjie Zhang, 40 anos, estaria a precisar de dinheiro. Até tinha pedido um empréstimo de 30 mil euros à vítima, que havia recusado. Contactou então três outros cidadãos chineses, com idades entre 41 e 55 anos, de Loures, Odivelas e Lisboa para organizarem um rapto e forçar a vítima a entregar o valor integral da transferência.
Cobrança difícil
Qinjie Zhang não queria ser reconhecido e, como tal, não poderia participar no sequestro. Os cúmplices contactaram então capangas portugueses para "fazerem o trabalho". Três homens, residentes em Lisboa, foram abordados para levar a cabo uma cobrança difícil a um cidadão chinês. Aceitaram mediante o pagamento de 3500 euros a cada um. O grupo reuniu-se em Lisboa para planear o ataque à casa da vítima, uma mansão com piscina e vista para o mar, situada na Lourinhã.
No dia 19 de março, encontraram-se todos no terminal rodoviário da Lourinhã e foram à residência. Partiram um vidro para entrar e surpreenderam o promotor e a mulher, ameaçando-os com uma pistola e silenciando-os com fita adesiva na boca. Além disso, manietaram-lhes as mãos e tornozelos com abraçadeiras.
Passaram então a percorrer as divisões da casa em busca do dinheiro. Para pressionar a vítima a revelar a localização, espancaram-na, apontaram-lhe uma pistola à cabeça e garantiram saber da existência dos 200 mil euros, apesar de o promotor o negar continuamente. Para se libertar chegou até a prometer aos sequestradores que se os libertassem lhes entregaria 50 mil euros em poucos dias.
O grupo aceitou a proposta e ameaçou retaliar se a vítima avisasse a Polícia, aviso que esta ignorou, alertando as autoridades. Antes de abandonarem a casa os três apoderaram-se de perto de cinco mil euros, cartões bancários, computadores, relógios e telemóveis.
PORMENORES
Prisão preventiva
Dois dos cidadãos chineses que planearam o sequestro foram colocados em prisão preventiva. Os restantes arguidos, entre eles o cérebro da operação, cumprem apresentações periódicas às autoridades.
Suspeito em fuga
Um dos cidadãos chineses suspeitos nunca foi interrogado como arguido por estar em paradeiro incerto. Waidong Wang foi alvo de mandados de detenção internacionais. O grupo poderá estar ligado a outras atividades criminosas. A PJ apreendeu-lhes seis passaportes chineses e oito cartões bancários em nome de chineses não identificados.