Lourenço Pinto já sabia que não ia haver votação mas mandou sócios para o Dragão Arena
O ex-presidente da mesa da assembleia-geral (AG) do F. C. Porto, Lourenço Pinto, revelou hoje, em tribunal, que quando decretou a mudança de local da AG do auditório para o pavilhão, a 13 de novembro de 2023, já sabia que não ia haver votação no Arena, pois "não havia possibilidade de contar os votos".
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Em mais uma sessão do julgamento da Operação Pretoriano, no Tribunal de São João Novo, no Porto, o então responsável por conduzir os trabalhos da assembleia-geral do F. C. Porto garantiu que nunca ninguém lhe disse que não havia condições no Arena, para se realizar a reunião. "Isso é tudo uma atoarda", atirou.
Lourenço Pinto recordou que, ao início da noite, "face ao aglomerado que pessoas na sala", e após verificar que não havia condições no auditório, suspendeu os trabalhos, “para ir para o único local marcado que era o salão VIP, preparado para 800 pessoas. Nem eu, nem a mesa, conhecíamos a existência do pavilhão”, disse.
Mudança feita sem o seu conhecimento
Porém, sem que soubesse, foi escolhido o Dragão Arena. “Quem escolhe o local não sou eu. É o proprietário do local, os serviços”, justificou. “Houve a transferência sem que eu soubesse. O pavilhão estava preparado para o jogo do dia seguinte e teve de ser preparado para a assembleia-geral (AG)”, afirmou.
Além de revelar que não iria haver qualquer votação, o então presidente da mesa disse ainda que, quando saiu do auditório, "ficou logo marcada nova AG para o dia 20 de novembro", para se realizar a votação. "Era materialmente impossível haver a votação de 48 artigos naquele dia", frisou. A AG “tem um formalismo especial que não se coadunava com aquele número de pessoas. Se estivesse sempre cheio, não havia possibilidade de contar os votos”, acrescentou.
Sócios têm de ser tratados com carinho
Questionado pela juíza sobre porque é que decidiu então prosseguir a AG se já sabia que não ia haver qualquer votação, Lourenço Pinto explicou que “os sócios tinham o direito a reunir-se" e que não era justo haver sócios lá fora e serem mandados embora. "Têm de ser tratados com carinho”, afirmou.
Se os sócios tinham o direito a reunir-se, porque é que começou no Arena sem estarem todos os sócios credenciados, questionou a advogada do F. C. Porto. Lourenço Pinto explicou que, segundo a convocatória, a reunião começa 30 minutos depois da hora marcada com os sócios presentes, “senão era fila, fila, fila”. A espera não seria para os sócios entrarem, mas para prepararem o local, explicou, o que mereceu nova questão da advogada Sofia Branco. “Para preparar o local, podiam esperar, mas não podiam esperar pela credenciação dos sócios?”. Correto, respondeu.
O ex-presidente da AG explicou que, quando suspendeu a reunião e o informaram de que prosseguiria no pavilhão, aconselhou os sócios a ir por dentro, pelo parque de estacionamento, até ao Arena. No interior do Arena, lembra-se de uma altercação, mas não viu exatamente o que se passou na Bancada Norte. Depois, cerca de 100 pessoas sentaram-se atrás de si. Prosseguiram os discursos e houve a agressão a Henrique Ramos. “A única coisa física que vi nessa AG foi essa confrontação e a AG foi logo suspensa. Piropos é normal, agora agressões e falta de respeito não tolero", explicou.
Uma atoarda
Lourenço Pinto negou ter sido contactado pela PSP, na véspera ou no dia da AG, por causa das condições de segurança e negou ainda que alguém lhe tenha dito que não havia condições de segurança. “Isso é uma atoarda”, contestou, acrescentando que durante a AG também nunca ninguém o abordou a dizer que havia pessoas a entrar sem serem sócios, contrariando o que uma testemuha dissera em tribunal.
O ex-presidente da AG contou que haveria cerca de 200 ou 300 pessoas não sócias na assembleia, “uma diferença abissal” entre o número de credenciados e as pessoas presentes. “Algo correu mal e a Polícia quis saber porquê”, explicou. Questionado, sobre como chegou a esse número, disse que pessoas do clube faziam chegar ao seu vice-presidente da mesa o número de pessoas que entravam e comparou esse número com os sócios credenciados. Porém, não soube explicar de que modo é que conseguiram entraram os não sócios.
Afinal houve uma votação na AG
A advogada do F. C. Porto confrontou Lourenço Pinto com a ata da Assembleia-Geral onde se refere que terá havido uma votação no Arena. “Disse que a reunião tinha sido suspensa com a transferência, mas afinal surge uma votação na ata”, questionou Sofia Branco.
“Deus me dê paciência. O que eu disse foi que não foi votado nenhum artigo da ordem dos trabalhos. Foi votada a possibilidade de ser apresentado o documento numa só discussão em vez de artigo a artigo. É uma questão de economia processual”, explicou Lourenço Pinto.
"A raiar a má educação"
O ex-presidente da mesa da AG e também advogado teve de ser advertido pela juíza por estar “a raiar a má educação” nas suas respostas ao tribunal. Lourenço Pinto tinha-se mostrado indignado por ter de justificar a não suspensão da AG se já sabia que não ia haver votação. “Francamente. Admiro-me que façam essa pergunta a mim. Participo em AG ainda a senhora juíza não era nascida”, protestara o advogado, o que motivou uma reação dura da juíza Ana Dias: "O senhor está a raiar a má educação com o tribunal. Está a raiar já a desobediência. Está no limite”.
Questionado pelo advogado de Fernando Madureira, Lourenço Pinto disse que faz parte do Conselho Superior e que, apesar de ter feito parte das listas de Pinto da Costa, mantém boas relações com a atual direção e que continua a ver os jogos onde sempre viu e a ser convidado pelo clube e pela Federação Portuguesa de Futebol a ir ver jogos aos estrangeiro.
AG sem comunicação social
Antes, Lourenço Pinto confirmara que a AG “é privada”, pelo que a entrada da comunicação social depende de um deferimento prévio por parte do presidente da mesa. “Nem neste, nem nos últimos 20 anos, recebi qualquer pedido nesse sentido”, contou.
O ex-presidente da Associação de Futebol do Porto afirmou que conhece Vítor Catão “seguramente há mais de 15 anos”, por este ter presidido a um clube de futebol, o São Pedro da Cova. Lourenço Pinto não sabia se era bem aceite ou não junto dos Super Dragões, ou se era polémico. “Não acompanho as redes sociais”, justificou. “Comigo portou-se sempre bem. Só posso dizer isso”, terminou.