Amava a terra que o viu nascer e por isso tornou-se no principal benfeitor de escolas, cantinas, bibliotecas e bombeiros. Lúcio Thomé (como gostava de assinar) Feteira, que foi presidente da Junta de Freguesia entre 1934 e 1939 queria bem às pessoas de Vieira de Leiria e ajudava-as.
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Até ao dia em que "fizeram mal à família". Joaquim Vidal Tomé, actual presidente da Junta de Freguesia, ainda recorda esses tempos. Foi logo após o 25 de Abril e "os trabalhadores da fábrica de Limas Tomé Feteira fecharam na casa de banho dois irmãos, João e Albano. E ele não gostou", conta o autarca, adiantando que Lúcio "ficou desgostoso com a população e durante uns tempos deixou de vir à Vieira".
As pazes entre o benfeitor e os habitantes foi feita anos depois. Lúcio visitou a vila "e a população realizou uma festa-surpresa com ranchos folclóricos e tudo". "Ele até chorou" afiança Vidal Tomé, adiantando que a família "era muito querida e muito importante" e que "a mãe de Lúcio tem o seu nome numa rua".
Segundo o autarca, Lúcio foi o sócio fundador da Biblioteca de Instrução Popular de Vieira de Leiria, e todos os anos "dava uma quota". Depois da sua morte, e por causa destes problemas todos da herança, "a Biblioteca nunca mais teve ajuda e agora sobrevive com dificuldades".
A disputa da herança passou a ser assunto dominante nos cafés da vila e da praia. "As pessoas sabiam que ele tinha morrido, mas não sabiam desta história do crime do Brasil e dos problemas com a herança", explica o autarca, admitindo que alguns "acreditam que a Junta está rica". A verdade "é que não recebeu nada nem vai receber. O que vier é para construir uma Fundação para apoio à terceira idade e à cultura". A Junta "está incumbida dos estatutos e do conselho de administração. Mais nada", assegura
Segundo Vidal Tomé, Lúcio terá manifestado gosto em que a Fundação fosse construída na Quinta da Carvalheira". Um espaço de mais de 10 mil hectares, localizado entre Vieira da Leiria e a praia, em zona perfeitamente urbanizável e que valerá, ao preço de mercado, mais de um milhão de euros. "Esse espaço não foi doado nem pertence à Junta. Nós não recebemos nada por isso a Fundação ainda não foi concretizada", frisa o autarca.
Os habitantes mais antigos recordam ainda a emoção que foi o casamento de "Lucito", o filho legítimo de Lúcio Tomé Feteira, realizado há mais de 40 anos. "O casamento foi no Riomar (que em tempos foi discoteca) na praia da Vieira, e animado pelo maestro Shegundo Galarza e a sua orquestra. Havia uma grande passadeira vermelha e entre os convidados contam-se muitos políticos", contam. Lucito - que viria a morrer por doença depois dos 30 anos - era "um rapaz excêntrico". "Andava sempre com um chapéu de chuva e quando ia ao café pagava uma bica com 100 escudos e ia-se embora. Passado umas horas ia lá buscar o troco", recordam.