Fátima garantiu ter tentado apoio para o filho que matou. A Segurança Social desmente qualquer pedido de auxílio.
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Depois de ter assassinado o filho autista, de 17 anos, afogando-o num poço da aldeia de Cabanelas, em Mirandela, Fátima Martinho "justificou" o crime pelo facto de ter vivido um autêntico inferno durante os meses de confinamento obrigatório, em que teve de ficar 24 horas por dia com Eduardo José. Alegou que o menor se tornara violento e até que protagonizava episódios de autossatisfação sexual à frente dela. Disse ter procurado a ajuda de associações do concelho e também da Segurança Social (SS). Mas, na verdade, nenhuma instituição confirma ter recebido pedidos de ajuda.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, Fátima procurou convencer as autoridades de que a relação com o filho tinha chegado a extremos e que o "desespero" a conduziu a praticar o crime. Até teria pedido ajuda a diversas instituições particulares de solidariedade social e da SS, a quem teria explicado o "inferno" que vivia.
No entanto, questionada pelo JN sobre o alegado desinteresse, a SS explicou: "Relativamente ao caso em concreto, o Instituto da Segurança Social não tinha conhecimento da situação ora descrita pelos meios de comunicação social e redes sociais. O jovem em causa não foi sinalizado aos nossos serviços, assim como o agregado familiar nunca procurou os serviços da Segurança Social no sentido de encontrar uma resposta para eventual integração do jovem".
Também a Câmara de Mirandela, que gere a rede social daquele território, não recebeu qualquer pedido de apoio.
Premeditação
Certo é que as alegações de vivência infernal da mulher, de 52 anos - que poderiam valer-lhe atenuantes perante a justiça - não surtiram efeitos, por ora. Depois de detida pela Polícia Judiciária de Vila Real, o tribunal indiciou-a por homicídio qualificado. O Ministério Público acredita até que premeditou o crime. Foi colocada em prisão preventiva.
Foi na passada segunda-feira que Fátima deu um calmante ao filho. Para o MP, este era o primeiro passo de um plano que visava matar Eduardo José. Quando já estava sedado, levou-o a três quilómetros de casa, onde havia um poço num terreno de um vizinho.
Atirou o filho para o poço e, para garantir que se afogava, segurou-lhe a cabeça debaixo de água até deixar de respirar.
Eduardo era seguido por professora
Depois de decretado o encerramento da escola, em março, devido à pandemia de covid-19, Eduardo beneficiou do acompanhamento de uma professora. "Como ele e a mãe nem sequer sabiam ligar o computador, não era possível ter as aulas por Internet, pelo que a alternativa era propor atividades semanais. A professora ligava para a mãe, uma ou duas vezes por semana", referiu ao JN Rui Correia, diretor do Agrupamento de Escolas D. Afonso III, em Vinhais.
Pormenores
Perigo de fuga
Para colocar a mulher em prisão preventiva, o tribunal considerou existir perigo de fuga, tendo em conta que Fátima tem familiares no estrangeiro. Mas também entendeu que seria uma forma de proteção para a própria.
Tentou suicídio
Depois de ter morto o filho, José Eduardo, Fátima tentou o suicídio. Atirou-se à água, mas foi salva por um familiar.
Ninguém condena
Na aldeia, os habitantes não conseguem condenar a mulher. Dizem que estava esgotada, saturada, sem autoestima e que vivia um inferno desde o início da pandemia.