O furto de catalisadores de automóveis voltou em força, depois de uma primeira vaga verificada em 2014.
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Nos últimos meses, grupos mais ou menos organizados, alguns dos quais estrangeiros, têm-se dedicado, um pouco por todo o país, a roubar este componente colocado no tubo de escape para reduzir a emissão de gases poluentes.
Muitos dos catalisadores furtados são vendidos em pequenas oficinas a preços muito inferiores aos mais de mil euros que se pagam no mercado tradicional, mas outros acabam desmantelados para aproveitar metais como o paládio, a platina e o ródio, cujo valor é superior ao do ouro, podendo chegar aos 65 euros o grama.
Um verdadeiro tesouro escondido debaixo dos carros que, após passar por várias sucatas, acaba vendido às fábricas que produzem os catalisadores. Algumas das quais situadas na China.
O furto é simples, rápido e não necessita de muita gente. Aliás, bastam dois homens para concretizar um crime que começa sempre com um automóvel estacionado numa rua vigiada por um dos ladrões, enquanto o comparsa recorre a um macaco hidráulico para levantar a viatura. É este último quem se coloca debaixo do carro e, com uma rebarbadora, corta a blindagem que protege o motor e, posteriormente, as pontas do tubo de escape unidas pelo catalisador. Há vídeos de câmaras de vigilância que mostram que não é preciso mais de um minuto para fazer o trabalho e fugir.
Negócios internacionais
Na posse do catalisador furtado, os ladrões têm duas soluções. Uma é vender, por cerca de 120 euros, o componente intacto a pequenas oficinas que, depois, os revendem a clientes. Este é um mercado em crescimento, uma vez que há cada vez mais viaturas equipadas com uma peça que, nova e para os modelos topo de gama das principais marcas, pode custar 1500 euros.
Outra hipótese é vender os catalisadores a sucatas. Neste caso, segundo fontes policiais, o componente é desmontado para retirar o paládio, a platina e o ródio, materiais mais valiosos do que o ouro. Depois, estas sucatas falsificam faturas de compra para poderem revender os metais nobres a outras de maior dimensão e que possuem os alvarás obrigatórios para o comércio e transporte destes materiais. Muitas das transações ocorrem entre sucatas portuguesas e espanholas, para aproveitar a falta de fiscalização existente. As grandes sucatas canalizam, no fim do processo, o paládio, a platina e o ródio para fábricas que necessitam destes materiais para produzir novos catalisadores.
Parte significativa dos furtos são realizados por criminosos nacionais, mas as autoridades já chegaram a identificar um grupo de Leste dedicado ao furto de catalisadores em Portugal para os vender em Espanha.
Crime sem rasto
Também a Europol já identificou organizações criminosas que operam em vários países e chegam a atacar frotas inteiras numa única noite. Muitos destes grupos, que atuam em Inglaterra, Bélgica e Estados Unidos da América, estiveram anteriormente envolvidos noutros tipos de crime, como roubos e furtos de camiões, baterias de veículos, motores de barcos e diesel. Estas máfias vendem os catalisadores a negociantes de metais que, clandestinamente, extraem os metais preciosos. Alguns criminosos, porém, têm capacidades técnicas para remover o paládio, ródio e platina e vendê-los diretamente a empresas de refinação, tornando impossível rastrear o roubo.