A PSP apanhou, em ano e meio, seis pessoas em Lisboa e nenhuma no Porto, onde só há "alguns suspeitos" identificados.
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Os autores de furtos em habitações destinadas ao alojamento local em Lisboa e no Porto estão a conseguir escapar às malhas da Polícia. Entre o início de 2018 e 30 de junho deste ano, foram apresentadas à PSP, só no distrito de Lisboa, 518 queixas por este crime, mas apenas seis pessoas foram detidas, ainda que "várias" outras tenham sido identificadas. Já no do Porto - onde foram registados, no mesmo período, 62 furtos em estabelecimentos hoteleiros - não há detenções e estão somente identificados "alguns suspeitos".
Eduardo Miranda, presidente da Associação de Alojamento Local em Portugal (ALEP), reconhece que "é desagradável" para o negócio, mas ressalva que a PSP tem vindo a fazer "um trabalho de prevenção e de investigação". E recusa alimentar "alarmismos".
Os dados foram fornecidos ao JN pelos comandos metropolitanos de Lisboa e do Porto da PSP e resumem um fenómeno que explodiu a partir do ano passado, sobretudo na capital. Depois de, em 2016 e 2017, terem existido 24 e 67 queixas por furtos no alojamento local em Lisboa, a PSP recebeu, no ano passado, 370 participações - mais 279 do que o total dos dois anteriores. Já no primeiro semestre deste ano, foram registadas 148 situações, o que poderá indiciar ou a manutenção ou um ligeiro decréscimo do fenómeno.
No Porto, onde a PSP não distingue entre crimes em unidades hoteleiras e no alojamento local, o problema é de menor dimensão. Em 2017, foram apresentadas 33 queixas e, no ano seguinte, mais oito. Já até 30 de junho deste ano, foram recebidas 21 participações, metade das de todo o ano de 2018.
Setor desvaloriza crimes
Apesar desta discrepância, os números aproximam-se quando em causa está a quantidade de suspeitos apanhados pela PSP entre 1 de janeiro de 2018 e 30 de junho deste ano. Se na área do Comando do Porto "não foram efetuadas detenções, encontrando-se alguns suspeitos identificados", na do Comando de Lisboa foram detidas, no ano passado quatro pessoas, por se apropriarem de bens dos hóspedes da habitação e, no primeiro semestre deste ano, duas por terem subtraído algo ao recheio da residência. Em ambos, houve ainda "vários suspeitos identificados/arguidos", mas, feitas as contas, existiram apenas seis detenções para 518 furtos. E sempre fora de flagrante delito.
O cenário é desvalorizado pelo presidente da ALEP. Ao JN, Eduardo Miranda fala num "crime oportunista" similar aos furtos que ocorrem, por exemplo, no metropolitano. Lembrando que o número de casas destinadas ao alojamento local também aumentou, o dirigente não quer criar "alarmismos desnecessários". "Lisboa continua a ser uma das cidades mais seguras do mundo", frisa.
No Porto, a PSP confirma que, "na maioria dos casos", se trata de furtos de "oportunidade, descuido, astúcia ou introdução de chave falsa". Já em Lisboa, a mesma força garante não ser ainda possível inferir se a opção dos suspeitos de roubar o alojamento local é, sequer, propositada.
EXCEÇÃO
Jovem ladrão foi apanhado por hóspede
Além dos seis detidos até junho referidos pela PSP, foi apanhado em setembro, em Lisboa, um jovem que trepou até ao primeiro andar de um prédio no Centro Histórico. O homem, de 18 anos, foi intercetado por um dos hóspedes do apartamento, estrangeiro, após entrar pela janela. "À chegada dos meios policiais, o suspeito foi encontrado na posse de vários objetos subtraídos do local", no valor de 1720 euros, adiantou então o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP. Ao contrário das restantes, esta detenção aconteceu em flagrante delito. O jovem ficou sujeito a apresentações semanais às autoridades.
PORMENORES
90 557 registos de alojamento local em todo o país, à data de 1 de janeiro. A maioria destas habitações situa-se nos distritos de Lisboa, Porto e Faro, em particular nos centros históricos. Tem aumentado, nos últimos anos, o número de registos acumulados: 32 829 (2016); 52 673 (2017) e 77 515 (2018).
Tecnologia atrai
De acordo com a PSP de Lisboa, são procurados pelos ladrões sobretudo objetos de informática e eletrodomésticos. Alguns são pontualmente recuperados.
Queda no inverno
Apesar de ocorrerem ao longo de todo o ano, há tendência para um "pequeno decréscimo" do número de participações à PSP de Lisboa nos meses de inverno.