PJ apreendeu mais de 11 quilos de heroína dissimulados na bagagem de passageiro australiano, de 75 anos. Nova rota de tráfico tem em Moçambique uma plataforma giratória e Portugal como uma das portas de entrada da droga na Europa.
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Uma mala extraviada num voo entre a África do Sul e Lisboa permitiu à Polícia Judiciária (PJ) apreender mais de 11 quilos de heroína. A droga estava a ser traficada por um australiano, de 75 anos, que foi detido no Aeroporto Humberto Delgado, quando ali regressou para recuperar a mala carregada de produto estupefaciente.
Este caso veio provar que os principais cartéis internacionais usam uma nova rota para traficar heroína, que tem em Moçambique uma plataforma giratória para vários países europeus e faz de Portugal uma porta de entrada da droga na Europa.
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O septuagenário partiu, nesta semana, da África do Sul com duas malas que, devido à sua dimensão, foram arrumadas no porão do avião, sem levantar qualquer suspeita. A mesma bagagem carregada de droga foi, por causa de diversas escalas, passando de avião para avião ao longo da viagem que levaria o idoso a Lisboa e já no Aeroporto Humberto Delgado o passageiro recolheu uma das malas.
Mas, após longos minutos de espera, aquele percebeu que a segunda bagagem se tinha perdido numa das trocas de avião. Mesmo assim, saiu do aeroporto com uma mala cheia de heroína sem qualquer obstáculo e foi registar-se no hotel, situado em Lisboa, onde tinha reservado um quarto.
Apanhado em cilada da PJ
O problema só surgiu quando a mala extraviada chegou, no dia seguinte, ao Aeroporto Humberto Delgado. Nessa altura, foi sujeita a uma fiscalização por parte da Autoridade Tributária e Aduaneira, que revelaria cinco quilos e meio de heroína dissimulados no forro, o que levou a que a Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da PJ fosse acionada de imediato.
No âmbito da operação delineada, os inspetores contactaram, em seguida, o idoso australiano para o informar que a mala já tinha sido encontrada e que podia ser levantada. Nunca revelaram que tinham conhecimento da droga e o encontro ficou marcado. Sem desconfiar da cilada, o septuagenário dirigiu-se, então, ao aeroporto, recolheu a bagagem e, antes que passasse pelas portas de saída, foi detido. Posteriormente, a PJ efetuou buscas no quarto do hotel onde o traficante estava instalado e descobriu, na segunda mala, mais cinco quilos e meio de droga.
Já detido, o idoso não se assumiu como traficante e muito menos revelou qual a organização que lhe terá pago para traficar a heroína da África do Sul até Portugal. Foi respeitando o código do silêncio que ouviu o juiz ordenar a sua prisão preventiva.
Moçambique é a plataforma giratória da nova rota de tráfico
Este caso vem consolidar as suspeitas da PJ relativamente a uma nova rota de tráfico de heroína. Noutros tempos, este tipo de droga produzida em países como o Afeganistão, Irão e Paquistão, chegava à Europa, sobretudo, por uma das três ramificações da rota dos Balcãs. Uma delas recorre a ferry-boats para passar a heroína pela Grécia, Albânia e Itália e outra atravessa, por via terrestre, a Bulgária, a Macedónia, a Sérvia, o Montenegro, a Bósnia-Herzegovina, a Croácia e a Eslovénia para chegar a Itália ou à Áustria. A terceira rota percorre a Bulgária e a Roménia até à Hungria, Áustria, República Checa, Polónia ou Alemanha, também por terra.
A crise dos migrantes, que levou ao reforço policial das fronteiras no Leste Europeu, veio dificultar o tráfico por estas rotas tradicionais, levando os cartéis a procurar alternativas. A principal prevê que a heroína seja transportada do Sudeste Asiático, de barco, até Moçambique, país que se tem assumido como uma placa giratória para fazer chegar o produto estupefaciente a países como a África do Sul. E é diretamente de Moçambique ou dos países mais próximos que a heroína é, finalmente, enviada para a Europa, de barco ou de avião.
Devido às ligações históricas entre os dois países, Portugal acaba, assim, por ser uma das portas de entrada na Europa da heroína que parte de Moçambique.