Oleg Beregovenko era um imigrante ucraniano, de 51 anos, que trabalhava em condições de escravidão em estufas da Póvoa de Varzim, onde foi assassinado. A morte, provocada por uma violenta sodomia, é imputada ao patrão, atualmente em prisão preventiva e que vai ser julgado brevemente por homicídio qualificado, escravidão e profanação de cadáver. A mulher do empresário, a mãe e um sócio também irão sentar-se do banco dos réus por terem ajudado na deslocação do corpo da vítima, destinado a tentar disfarçar o homicídio.
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De acordo com a acusação do Ministério Público (MP) de Matosinhos, o principal arguido, Danny Eusébio, de 43 anos, é um horticultor com estufas situadas na freguesia da Estela. Para o ajudar, contratou Oleg em 2018, que já vivia em Portugal havia 10 anos. O empresário instalou-o numa rulote, aparcada num terreno agrícola, junto das estufas. Dormia numa cama improvisada feita de esponjas. Para cozinhar, tinha que usar um contentor, perto da rulote, equipado com eletrodomésticos vetustos. As necessidades fisiológicas tinham que ser feitas no meio das estufas e quando precisava de tomar banho, usava as instalações do armazém da empresa.
Sem amigos ou família em Portugal, Oleg apenas convivia com Danny, que em 2019 acabou por registar a vítima na Segurança Social declarando um ordenado de 600 euros mensais que nunca terá pago. Limitar-se-ia a dar lhe dormida, comida, tabaco e bebidas alcoólicas. Oleg embriagava-se quase diariamente. Ainda segundo o MP, o empresário agredia e insultava frequentemente a vítima.
O homicídio aconteceu a 10 de junho. Naquela manhã, o patrão foi à estufa colher e carregar alface, com a ajuda de Oleg. E, após terem comprado vinho do Porto e de Favaios, consumiram as bebidas nas estufas.
Em circunstâncias que a investigação não apurou, Danny começou a agredir Oleg que estava embriagado, pois a autópsia viria a revelar que tinha uma taxa de 2,21 gramas de álcool por litro de sangue. Mas a morte não fora provocada pelas agressões. O patrão terá sodomizado a vítima com um objeto contundente que a investigação nunca conseguiu identificar. Oleg faleceu de uma forte hemorragia anal. Danny levou o corpo desnudado para o contentor. Saiu do local e foi fazer entregas de alfaces.
Mais tarde, telefonou à mãe, Maria Fernandes, a confessar o homicídio. Ambos foram ao contentor e é lá que pensaram em deslocar o corpo para a casa de Maria. O objetivo era fazer acreditar que Oleg tinha morrido na habitação para tentar maquilhar o homicídio, mas também evitar que se soubesse que ele vivia na miséria. A mulher terá ligado à nora e ao sócio do filho a pedir ajuda.
Na habitação, situada em Aguçadoura, sentaram a vítima em cima de duas cadeiras num garagem, que era usada como sala de jantar. Vestiram-lhe umas calças e chamaram o 112. Mas os enfermeiros do INEM estranharam o cenário e ferimentos. Solicitaram logo a presença da GNR e da Polícia Judiciária que desvendou as circunstâncias do homicídio.