A investigação ao massacre de 540 veados e javalis na Herdade da Torre Bela, em dezembro de 2020, ainda não tem arguidos.
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O Ministério Público de Alenquer continua a investigação à montaria ilegal na qual 16 caçadores abateram 540 animais de grande porte e fotografaram-se em poses vitoriosas junto aos animais abatidos, divulgando as imagens nas redes sociais.
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A montaria decorreu na herdade localizada em Aveiras de Cima, concelho de Azambuja, e foi organizada pela empresa "Huntings Spain and Portugal, Monteros de La Cabra". Nas fotografias partilhadas nas redes sociais, os participantes regozijavam-se por um "novo recorde", o que indicia que outras jornadas semelhantes já teriam acontecido. Os proprietários desta herdade repudiaram e garantiram ser alheios à realização da montaria "abusiva".
A atividade de caça nesta herdade está suspensa desde o massacre, por decisão do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), que vai esperar até à conclusão da investigação criminal para uma decisão final. Ao JN, o ICNF refere que "a Zona de Caça Turística ainda se encontra suspensa, pelo que não existe qualquer atividade cinegética na propriedade".
ICNF reconheceu excesso
No inquérito que enviou ao Ministério Público, o ICNF considerou que as montarias realizadas "evidenciam o abate de um excessivo número de exemplares de espécies cinegéticas" e "fortes indícios de uma gestão não sustentável da exploração do efetivo de caça existente" na propriedade. O ICNF apontou ainda "dificuldades de controlo do cumprimento das exigências a observar na emissão de títulos de caça para não residentes em território português".
A "Huntings Spain and Portugal, Monteros de La Cabra", com sede em Badajoz, foi fundada há 25 anos por um casal de universitários com a caça como paixão em comum. Dias depois da publicação das fotos, as páginas nas redes socias foram apagadas. Os conteúdos desapareceram depois de o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, ter afirmado que os eventuais crimes podem ser imputados "aos organizadores, proprietários ou aos próprios caçadores".
Herdade foi ocupada em 1975
A Herdade da Torre Bela, uma das maiores propriedades muradas da Europa, chegou a ser objeto de ocupação, na sequência da revolução de 74, em abril de 1975. Um ano depois, seria legalmente expropriada e deu lugar à Cooperativa Agrícola da Torre Bela, que só durou um ano. Passou então para a gestão direta da Direção-Geral das Florestas e, em 1985, foi devolvida aos seus antigo proprietários, que logo a venderam à Portucel. Em 2003, a herdade mudou novamente de mãos, com a sua venda à Sociedade Agrícola da Quinta do Convento da Visitação.