PJ do Porto desmantela esquema de branqueamento. Trinta empresas usadas para pôr a circular dinheiro de burlas.
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Um cidadão argelino, formado em matemática aplicada, suspeito de estar no centro de uma operação de branqueamento de capitais provenientes de fraudes milionárias a multinacionais húngaras, alemãs e francesas, foi detido pela Polícia Judiciária do Porto, com sete cúmplices, todos de nacionalidade portuguesa. Só em território nacional terão movimentado pelo menos dez milhões de euros, usando 30 empresas.
As burlas vitimaram as empresas estrangeiras, através do "Business Email Compromise", esquema em que os suspeitos obtêm dados de fornecedores, para depois se fazerem passar por um deles e reclamarem o pagamento de faturas. O JN apurou que, só na Hungria, os burlões embolsaram 25 milhões de euros.
As vítimas eram levadas a transferir dinheiro para contas de firmas portuguesas controladas pelo grupo. Este, acreditam os investigadores, usou Portugal para lavar parte dos milhões desviados das multinacionais.
O núcleo duro será composto por três pessoas, residentes entre a Póvoa de Varzim e o Porto. São dois portugueses e o argelino, tido como o cérebro do esquema.
Cascata de empresas
Os suspeitos criaram ou adquiriram empresas de fachada apenas destinadas a legitimar artificialmente os movimentos bancários. Quando o dinheiro proveniente das burlas era transferido para uma conta portuguesa, seguia imediatamente para outra conta nacional, de uma empresa diferente. As verbas circulavam ainda mais duas vezes por outras firmas, numa "lógica de cascata", para seguir para bancos turcos ou chineses. Os movimentos eram justificados com a emissão de faturas de serviços inexistentes. Ao fim de seis meses, as empresas de fachada eram desativadas.
"Em Portugal, esta organização criou um circuito financeiro capaz de proceder à posterior integração na economia real das vantagens dos crimes, sendo-lhe atribuídos, por ora, movimentos financeiros superiores a dez milhões de euros operados em território nacional", explica a PJ, que apreendeu dois milhões. Os arguidos começaram ontem a ser ouvidos em tribunal.