Diretor do Serviço de Anestesiologia já tinha estado em quarentena, mas três dias depois de realizar teste que confirmou infeção foi ao gabinete, no Hospital de Santo António, no Porto.
Corpo do artigo
O diretor do Serviço de Anestesiologia e chefe de equipa da Urgência do Hospital de Santo António, no Porto, foi trabalhar para o hospital apesar de ter testado positivo à Covid-19, três dias antes. O regresso do médico à unidade de saúde, onde todos sabiam do seu estado de infetado, criou alarme entre médicos, enfermeiros e outros profissionais, ao ponto de o clínico ter sido encaminhado para casa.
O caso aconteceu no passado dia 15. De acordo com informações recolhidas pelo JN, Humberto Machado, de 54 anos, que contraiu a doença do novo coronavírus em meados de março, foi visto a entrar nas instalações do hospital. Quem o viu, acreditou, num primeiro momento, que o anestesista já estava curado. Mas, pouco depois, constatou-se que um exame efetuado três dias antes afinal tinha dado positivo. A informação de que o médico tinha ido trabalhar, apesar de o último teste o dar como ainda infetado, propagou-se, causando preocupação no hospital.
Sem sintomas
Ainda de acordo com o que foi possível apurar, Humberto Machado estava há vários dias sem sintomas e terá solicitado ao Serviço de Saúde Ocupacional a possibilidade de se deslocar ao hospital por imperativos profissionais. Ao que tudo indica, a deslocação do clínico foi autorizada, embora com restrições, designadamente o seu "confinamento" no gabinete e a proibição de ver doentes. Todas as limitações terão sido respeitadas pelo anestesista.
Ainda assim, a presença do médico no hospital foi notada e a apreensão generalizada acabou por chegar ao mesmo Serviço de Saúde Ocupacional, que terá pedido a Humberto Machado que regressasse a casa. Desde então, o médico já foi submetido a mais dois testes à Covid-19 que deram negativos e regressou ao serviço na passada quarta-feira.
Contactado pelo JN para se pronunciar sobre a deslocação do médico ao hospital apesar de ter testado positivo três dias antes, fonte oficial do Hospital de Santo António adiantou não poder, por questões legais de proteção de dados, dar "informações sobre o estado de saúde individual de quaisquer trabalhadores", explicando, no entanto, que "o Serviço de Saúde Ocupacional (Medicina do Trabalho) tem autonomia técnica no que respeita à avaliação clínica e aptidão para o trabalho, não tendo de justificar as decisões perante o Conselho de Administração".
Numa resposta enviada ao JN, o hospital lembra que "embora haja recomendações da Comunidade Europeia (Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças) que permitem o regresso ao trabalho de profissionais de saúde, com máscara, após 14 dias sem sintomas, no Centro Hospitalar Universitário do Porto o critério de aptidão implica: 14 dias sem sintomas e dois testes negativos".
O JN tentou contactar Humberto Machado, mas não foi possível obter uma reação do médico em tempo útil.
Desobediência
O JN perguntou à Procuradoria-Geral da República se o Ministério Público tinha sido informado do caso e se o médico incorria num crime de desobediência, pela alegada violação do confinamento obrigatório para todos os doentes Covid-19. Não recebemos resposta até ao fecho desta edição.
Diretor de Urgência
O médico Humberto Machado é atualmente diretor do Serviço de Anestesiologia e chefe de equipa do Serviço de Urgência do Centro Hospitalar do Porto. É assistente graduado em Anestesiologia e já foi diretor do Serviço de Urgência. Publicou livros e artigos científicos e é docente do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).
Cinco testes
O especialista terá efetuado um teste à Covid-19 em meados de março que deu positivo. Cumpriu a quarentena, realizou outro teste no início de abril e ainda outro no dia 12: um terá sido inconclusivo e o outro deu positivo. Entretanto, fez mais dois testes, que deram negativo.