Os milhões de euros em comissões inflacionadas de transferências de jogadores saíram de Portugal, deram a volta ao Mundo, através de um carrossel de offshores, mas regressaram ao país de origem: às empresas de Vieira.
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Esta é a tese do Ministério Público (MP) que o levou a deter anteontem Luís Filipe Vieira, o agente de futebol Bruno Macedo e o filho do líder encarnado Tiago Vieira. O empresário José António dos Santos, conhecido como "Rei dos Frangos", também foi detido na Operação Cartão Vermelho, devido à OPA ao SLB e a fraudes com dívidas de Vieira ao Novo Banco. Em causa estão negócios de cerca de 100 milhões.
O MP acredita que Vieira lesou o Benfica em 2,5 milhões de euros com a conivência do empresário de futebol Bruno Macedo. Terão sido subtraídos 1,2 milhões à SAD encarnada em relação a mais-valias das vendas dos jogadores Derlis González e Cláudio Caniza, além de 1,3 milhões com o atleta César Martins.
Da Tunísia ao Panamá
O dinheiro do Benfica foi parar a empresas controladas por Macedo, envolvendo um complexo circuito financeiro, passando por offshores dos Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e Tunísia, além de um banco do Panamá (ver infografia).
Para montar a teia de empresas, Bruno Macedo terá beneficiado da ajuda de cúmplices. O MP garante serem Nuno Durães Lopes, António de Sá e Vítor Dantas Machado, que usaram várias empresas, algumas delas instaladas no Centro de Negócios de Oleiros.
Um dos exemplos é a Trade In, firma norte-americana de Macedo, que detinha os direitos económicos de César Martins. A empresa terá recebido o dinheiro do Benfica, que apareceu depois na International Consulting, sediada na Tunísia. Esses fundos, calculados em 1,3 milhões, seguiriam mais tarde para contas bancárias nacionais tituladas por empresas ligadas a Vieira.
Outra empresa de Macedo, a Springlabyrinth (portuguesa) recebeu, entre 2015 e 2017, tranches de 880 e 150 mil euros de duas offshores detidas pelo empresário de futebol. Serviram para comprar imóveis, situados no Algarve, em Rio Maior e Loures, a firmas de Vieira. Ou seja, os pagamentos de transferências, autorizados pela SAD liderada pelo presidente benfiquista, serviram para comprar casas de Luís Filipe Vieira.
Segundo o MP, em 2015 e 2016, o Benfica também fez transferências diretas de 2,6 milhões para a Master International (de Macedo), após um acordo entre os dois arguidos para, em parte, beneficiar as sociedades do grupo de Luís Filipe Vieira. Com o dinheiro, terá amortizado dívida que as suas imobiliárias tinham para com os bancos.
A maior fatia do total das verbas transferidas terá correspondido realmente aos negócios dos jogadores e em causa estarão "apenas" 2,5 milhões de comissões fictícias.