Movimento neonazi armazenou arsenal com auxílio de dois militares, um no ativo e outro com funções suspensas.
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Um militar da GNR, em licença de serviço, e um fuzileiro da Marinha no ativo forneceram material militar ao Movimento Armilar Lusitano (MAL). O primeiro entregou diversas armas e munições ao amigo Bruno Gonçalves, chefe da PSP detido na Operação Desarme 3D, e o segundo cedeu fatos camuflados a Nuno Pais, também detido pela Polícia Judiciária (PJ) pelos crimes de infração terrorista e detenção de arma proibida.
O militar da GNR decidiu suspender as funções na Guarda e emigrar para a Polónia, onde trabalha no comércio de armas. Esta atividade revelou-se fundamental para ajudar o amigo Bruno Gonçalves a armazenar o arsenal necessário à luta armada preconizada pelo MAL.
A investigação à milícia apurou que, em julho de 2023 e janeiro do ano passado, Bruno Gonçalves recebeu duas encomendas postais contendo, suspeitam as autoridades, armamento. Em março de 2023, o chefe da PSP também foi a Sintra buscar munições de 9 mm que pertenciam ao guarda em licença de serviço. E foi ainda o militar da Guarda que agilizou a compra de cinco capacetes blindados para elementos do movimento neonazi. Polícia e militar eram tão próximos que o segundo pernoitou 19 dias na casa de Bruno Gonçalves quando, em junho do ano passado, veio de visita a Portugal.
187 encomendas recebidas
As autoridades apuraram ainda que Nuno Pais recebeu, em setembro de 2023, um saco das mãos de um fuzileiro da Marinha no ativo. O saco continha fatos camuflados e outro material que a PJ não conseguiu descobrir.
Na vigilância feita aos radicais, a PJ concluiu que a cúpula do MAL pretendia adquirir e fabricar o maior número possível de armas. Com esse objetivo, Bruno Gonçalves recorria ao seu estatuto de agente policial para convencer armeiros e colegas a cederem-lhe, de forma legal, pistolas e munições. Noutras situações, adquiriu armamento em lojas online, uma das quais com sede em Itália, e recebia o material em casa. A PJ contabilizou, de 2022 e maio deste ano, 79 encomendas em nome do chefe da PSP.
Já Bruno Carrilho recebeu 108 encomendas com armas e material para fabricar pistolas nas impressoras 3D que o grupo de extrema-direita possuía. Bruno Carrilho chegou ainda a apresentar um requerimento na Suíça, onde esteve emigrado, para comprar pistolas. Alegou que praticava tiro desportivo.
Esta era uma das estratégias do MAL. Os dois líderes sugeriam aos seguidores tornarem-se praticantes de tiro ou caçadores para adquirirem armas legalmente.
Tecnologia
Impressoras 3D
O MAL adquiriu impressoras 3D para imprimir armas, granadas e explosivos. As máquinas foram apreendidas pela PJ.
Ameaça em 2021
Em 2021, o oficial da PSP Pedro Moura já tinha alertado, numa reportagem do JN, que as impressoras 3D eram uma “ameaça emergente”. A Europol também chamou a atenção para o perigo.
Armas de plástico
Através de um programa de computador, a máquina 3D imprime sucessivas camadas de plástico até completar o molde da arma desenhado previamente. Alguns modelos de armas 3D são finalizados com peças em metal.