O Ministério Público acusou Rui Pinto de ter pirateado os e-mails do Benfica, posteriormente entregues ao diretor de comunicação do F. C. Porto, Francisco J. Marques.
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Juízes, procuradores, empresas da empresária angolana Isabel dos Santos e a Liga de Clubes terão sido outros dos alvos de Rui Pinto, mentor do Football Leaks.
No total, o Ministério Público imputa ao hacker, autointitulado denunciante, 377 crimes informáticos. A notícia foi avançada pela revista "Sábado" e confirmada pelo JN.
A acusação surge a cerca de uma semana de Rui Pinto, de 34 anos, conhecer o acórdão do processo em que responde por 90 crimes por ter atacado, entre 2015 e 2019, o Sporting Clube de Portugal, o fundo de investimento Doyen Sports, a Federação Portuguesa de Futebol, a sociedade de advogados PLMJ e a Procuradoria-Geral da República. Os crimes em causa nesta nova acusação são contemporâneos destes.
Segundo o despacho, proferido a 4 de julho de 2023, o hacker autointitulado denunciante terá exfiltrado entre fevereiro e abril de 2017, as caixas de correio eletrónico de 25 colaboradores do Benfica, incluindo Luís Filipe Vieira, então presidente do clube.
Depois, terá decidido partilhar a informação em blogues acessíveis ao público em geral e, através de um e-mail anónimo, com Francisco J. Marques, condenado a 12 de junho de 2023 a pena suspensa pelo Tribunal Criminal de Lisboa por ter divulgado, como prova de um alegado "polvo" benfiquista no futebol, algumas dessas mensagens no Porto Canal.
Na imputação, a procuradora não explicita que se trata do mesmo correio eletrónico, mas os endereços referidos para a troca de mensagens com Francisco J. Marques são os mesmos indicados no processo em que o diretor de comunicação portista foi condenado a pena suspensa pela divulgação – que o tribunal disse ser manipulada – dos e-mails.
À data, foi também surgindo documentação retirada do sistema informático dos encarnados nos blogues Benfica Leaks e Mercado do Benfica, cuja criação e atualização o Ministério Público atribui a Rui Pinto. Este último já tinha, de resto, sido associado ao mentor do Football Leaks no processo em julgamento que na próxima semana chega ao fim.
Em outubro de 2022, Rui Pinto negou, em tribunal, a acusação, assegurando que o responsável pelo blogue era uma outra pessoa que "trabalhava para o Football Leaks" e que terá ignorado os seus pedidos para que os dados ali divulgados fossem entregues a um consórcio de jornalistas. "[Foi] uma facada nas costas", desabafou então.
Mais 20 entidades atacadas
Na acusação, a procuradora Vera Camacho, do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), descreve ainda ataques a outras 20 entidades, incluindo mais quatro clubes de futebol: Leixões Sport Club, Rio Ave, Vitória Sport Clube e Moreirense.
Já sociedades de advogados terão sido seis: a Caldeira, Cernadas, Sousa Magalhães e Associados, a Morais Leitão, a Esteves, Ribeiro, Araújo e Associados, a Vieira de Almeida (VdA), a Carlos Soares e Associados, e a Cruz, Salinas, Mayer & Associados.
O Ministério Público e os tribunais terão sido igualmente visados, incluindo a ex-procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, e o juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal.
A Fidequity, S.A., associada a Isabel dos Santos, a Cofina, a Autoridade Tributária, a Rede Nacional de Segurança Interna, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e a Altice foram as restantes entidades visadas. Em todas, a prioridade foi, quase sempre, pesquisar por negócios do futebol ou ligados a Angola. Além de mentor do Football Leaks, Rui Pinto garante ter sido a fonte dos Luanda Leaks, relacionados com a empresária Isabel dos Santos.
No total, o hacker autointitulado denunciante está acusado de 202 crimes de acesso ilegítimo qualificado, 134 de violação de correspondência, 23 de violação de correspondência agravada e 18 de dano informático.
O JN contactou a defesa de Rui Pinto, mas, até ao momento, não obteve resposta. Em outubro de 2022, quando o seu cliente começou a ser interrogado no julgamento que termina na próxima semana, Francisco Teixeira da Mota apelidou de "perversa" a estratégia do Ministério Público de só então ter constituído Rui Pinto arguido no processo em que acabou por ser agora deduzida acusação.