O Ministério Público de Figueiró dos Vinhos pondera abrir uma investigação sobre o destino de donativos que a comunidade chinesa em Portugal entregou ao presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, e à mulher deste, Isabel Alves, para ajudar as vítimas do incêndio de junho de 2017.
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Segundo informação recolhida pelo JN, a iniciativa do Ministério Público (MP) tem a ver com duas fotografias que registaram uma entrega de dinheiro e foram apresentadas como prova por Carlos David Henriques, ex-presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, para se defender de uma acusação por difamação agravada, de que foi absolvido há uma semana.Carlos Henriques soube que Isabel Alves tinha participado numa cerimónia de entrega de donativos pela comunidade chinesa, no Município de Pedrógão, e disse-o na TVI em 2019. Esta declaração levou Isabel Alves a processá-lo por difamação, mas o Tribunal de Figueiró dos Vinhos considerou agora que o arguido se limitara a contestar que a mulher de Valdemar Alves tivesse participado naquela cerimónia - uma vez que não tinha ligação formal à autarquia -, sem a acusar de desviar os donativos.
Autarca sem credibilidade
Sobre o depoimento de Valdemar Alves, o juiz considerou-o "titubeante e marcado pela incerteza". Ao início, "referiu que aquela [Isabel Alves] não teria tido nenhuma intervenção com dinheiro ou com donativos de chineses". Contudo, confrontado com as fotografias alusivas ao momento, recuou, dizendo que a mulher "houvera, apenas e só, intermediado e sido intérprete nos contactos entre si e alguns chineses falantes de língua inglesa". "Pelo exposto e pelas hesitações e contradições demonstradas pela testemunha, não mereceu credibilidade pelo tribunal", conclui o tribunal.
Segundo a publicação Infocul.pt, a comunidade chinesa entregou um total de 91 mil euros a Valdemar Alves, em junho, julho e outubro de 2017, para "ajudar os bombeiros, os familiares das vítimas [66 mortos e 254 feridos] e os desalojados pelo incêndio". Indignado por, alegadamente, nem os bombeiros nem a Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG) terem recebido nada, Carlos Henriques diz que o dinheiro ficou num cofre da Câmara.
"Não recebemos nada, por laxismo e ódio político", acusa o ex-presidente da Associação dos Bombeiros de Pedrógão, que foi mandatário do candidato do PSD à Câmara, João Marques (opositor de Valdemar Alves), e que defende que o destino dos fundos deve ser investigado: "Acho que há matéria para o MP prosseguir com o caso e acho que a AVIPG e os bombeiros se deviam mexer", afirma.
O JN tentou ouvir Isabel e Valdemar Alves, sem sucesso.
Associação de Vítimas quer ajudar população
"É nossa vontade que esse dinheiro nos venha a ser entregue", disse ao JN a presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, Dina Duarte, interessada em investir em equipamentos de proteção e socorro para as populações atingidas pelo incêndios de 2017. "Ainda não avançámos com nada em concreto, porque a direção ainda não reuniu", diz ainda. Já o atual presidente da Associação dos Bombeiros de Pedrógão Grande, Luís David, não pensa reclamar os donativos. "Não tenho nenhum documento que me diga que esse valor tinha como destino os bombeiros", justifica.