Ministério Público diz que pagaram a João Galamba refeições de 30 e de 260 euros
Almoços de 20 e 30 euros e um jantar de 1300 euros. São estes os valores das refeições pagas por responsáveis da empresa Start Campus ao ministro João Galamba e ao presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, com o alegado objetivo de obterem decisões favoráveis ao megaprojeto do Data Center de Sines.
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De acordo com informações recolhidas pelo JN, o Ministério Público (MP) apurou que houve, pelo menos, duas refeições oferecidas aos decisores públicos pelos gestores detidos, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves. Terão ocorrido em restaurantes com preços relativamente acessíveis, onde foram cobrados 20 e 30 euros por cabeça, e também contaram com o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, que é igualmente suspeito e referido várias vezes nos despachos do Ministério Público.
Uma outra refeição, num restaurante de luxo do centro de Lisboa, juntou apenas Galamba, Lacasta e dirigentes e um investidor da Start Campus, além de Diogo Lacerda Machado, consultor desta empresa. O jantar dos cinco comensais custou cerca de 1300 euros, o que dá 260 euros por cabeça, e foi pago pelo investidor, de nacionalidade estrangeira.
Recorde-se que, para o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), os dirigentes da Start Campus contrataram Lacerda Machado para aproveitar a sua relação de amizade com o primeiro-ministro, António Costa, e com o chefe de gabinete deste, Vítor Escária. Aliás, os investigadores acreditam que Lacerda Machado nunca prestou quaisquer serviços de advocacia para a Start Campus.
Com relações privilegiadas, Lacerda poderia assim “estabelecer contactos e exercer influência e pressão sobre membros do Governo, titulares de órgãos de autarquias locais e de outras entidades públicas”, com vista a acelerar as aprovações necessárias ao desenvolvimento do projeto. Afonso Salema, Lacerda Machado e Vítor Escária terão mantido várias reuniões tanto no gabinete deste último na residência oficial do primeiro-ministro em São Bento, como na sede do PS, no Largo do Rato, e ainda nos escritórios da Start Campus, em Lisboa.
Vítor Escária terá começado a contactar o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, mas também a secretária de Estado da Energia, Ana Fontoura Gouveia, bem como outras entidades públicas, além do presidente da Câmara de Sines, o socialista Nuno Mascarenhas (também detido), com vista a “desbloquear” e “conferir andamento mais célere e favorável aos assuntos do interesse da Start Campus”, garante o DCIAP.
O JN sabe que, nesta altura, o inquérito conta com nove arguidos. São os cinco detidos Vítor Escária, Diogo Lacerda Machado, o autarca de Sines Nuno Mascarenhas e os dois gestores Afonso Salema e Rui Oliveira Neves. Constituídos arguidos foram João Galamba, Duarte Cordeiro e Nuno Lacasta da APA, além da própria empresa Start Campus.
Nesta primeira fase da "Operação Influencer", o Ministério Público optou por dar prioridade as suspeitas que envolvem o projeto do Data Center de Sines, deixando para um momento posterior os casos do lítio e do hidrogénio.