Uma equipa dirigida pelo procurador do Ministério Público (MP) Rosário Teixeira cumpriu ontem o segundo dia consecutivo de buscas, com especial incidência na Zona Norte do país, no âmbito de vários inquéritos criminais sobre os investimentos realizados pela empresária angolana Isabel dos Santos em Portugal nos últimos anos.
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Um desses investimentos é o da compra de 67,2% da Efacec, empresa de Matosinhos que emprega cerca de 2500 trabalhadores e, para se salvar, precisa de vender rapidamente a posição de Isabel dos Santos.
A pedido das autoridades angolanas, a Justiça portuguesa já tinha arrestado bens da filha do ex-presidente da República de Angola José Eduardo dos Santos, depois das revelações do Luanda Leaks, há meio ano.
Mas agora o MP do Departamento Central de Investigação e Ação Penal também atua por conta própria, em meia dúzia de inquéritos onde procura provas de branqueamento de capitais. Um tipo de crime só imputável quando se faz prova da prática de pelo menos um crime precedente (aquele que gerou o "dinheiro sujo"), que o MP ainda não identificou. Questionada ontem pelo JN, a Procuradoria-Geral da República nada disse sobre o caso.
falta de crédito
Um dos principais focos do MP está apontado à origem do dinheiro com que, em 2015, Isabel dos Santos se tornou a principal acionista da empresa sediada em Matosinhos que alguns apontam como a maior tecnológica do país.
Nesta parte da investigação, estão em causa 65 milhões de euros transferidos de Angola, bem como a proveniência de fundos que a empresária usou para reembolsar o sindicato bancário que lhe emprestou mais 160 milhões de euros para comprar a fatia de 67,2% da Efacec.
Mais de uma centena de operacionais participaram na operação de buscas levada a cabo por todo o país, com o acompanhamento do juiz de instrução Carlos Alexandre, nos últimos dois dias.
A Efacec não confirmou qualquer diligência nas suas instalações, mas o administrador da empresa, Ângelo Ramalho, desdobrou-se em entrevistas para sublinhar que a Efacec está sem crédito bancário há meio ano e, para se libertar desta asfixia, precisa que a posição acionista de Isabel dos Santos seja vendida quanto antes.
transferências suspeitas
As buscas do MP também terão servido para recolher documentação relacionada com as célebres transferências de mais de 100 milhões de euros da Sonangol, petrolífera a que Isabel dos Santos presidiu, para consultoras com sede no Dubai e de que a própria empresária poderá ser beneficiária.
A aquisição de um imóvel na Quinta do Lago, no Algarve, foi outra das motivações do MP. O negócio terá sido feito em nome de Mário Leite da Silva, português que presidiu ao Conselho de Administração do Banco de Fomento Angola. Mas as autoridades suspeitam que Isabel dos Santos seja a sua verdadeira beneficiária.
Figuras
Mário Silva - Um dos alvos das buscas terá sido Mário Leite da Silva, gestor e braço- -direito de Isabel dos Santos. Também exercia funções docentes na Porto Business School.
Paula Oliveira - O Ministério Público também terá feito buscas a Paula Oliveira, ex-administradora da NOS (tal como Leite da Silva) e que era vista como testa de ferro da angolana, bem como a Sarju Raikundalia, ex-dirigente da Sonangol.
Jorge B. Pereira - O advogado Jorge Brito Pereira, ex-presidente da NOS, também foi alvo do Ministério Público. Um dos locais visados foi a sociedade Uría Menéndez - Proença de Carvalho, sociedade onde trabalhava.
Rui Pinto -Rui Pinto, informático por detrás do Football Leaks, também foi a fonte dos documentos do Luanda Leaks.
Ana Gomes - A ex-eurodeputada Ana Gomes é autora de uma participação criminal contra Isabel dos Santos.
Pormenores
Disposta a vender - Quando rebentou o escândalo Luanda Leaks, em janeiro, Isabel dos Santos dispôs-se a alienar vários negócios em Portugal, incluindo 67,2% da Efacec.
30 interessados - Ângelo Ramalho, administrador da Efacec, escreveu no JN que aquela empresa já recebeu "mais de 30 propostas de interesse" na compra da posição de Isabel dos Santos. O prazo de receção das propostas vinculativas termina no final do mês.
Isabel negoceia - Ângelo Ramalho disse ontem na TVI, sem detalhar, que Isabel dos Santos está a negociar com a Banca. E indicou que, enquanto não houver um novo acionista, a Banca não vai financiar a Efacec.