Ministério Público pede 25 anos por ataque racista que matou um indiano e feriu outro
O Ministério Público pediu a pena máxima, de 25 anos de prisão, para o suspeito de ter atacado com uma arma a moradia onde viviam seis indianos, matando um e ferindo outro. Em alegações finais, o MP do Tribunal de Setúbal defendeu que o arguido, Ângelo Guterres, agiu por motivação racista.
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“Os primeiros disparos, através da janela, que atingiram a vítima mortalmente enquanto esta descansava foram uma execução pelo arguido, que, depois, numa atitude de emboscada, dirigiu-se às traseiras da casa à procura de outros que fugiam para os matar apenas por serem indianos”, afirmou a procuradora que representa o MP no julgamento, ao descrever os crimes cometidos na noite de 5 de novembro de 2023, na Rua Engenheiro Ribeiro da Silva, em Praias do Sado, Setúbal.
Levantou e baixou persiana
Munido de uma espingarda caçadeira, Ângelo dirigiu-se à casa onde moravam os imigrantes, levantou a persiana da janela de um quarto virado para a rua, onde estava Gurpreet Singh, de 31 anos, voltou a fechá-la e disparou duas vezes, atingindo no peito e fatalmente este indiano. Depois, o atacante acedeu, pelas garagens, ao pátio das traseiras, e encarou Major Singh, disparando outros dois tiros. Este foi atingido num ombro e fugiu de novo para dentro de casa, onde conseguiria agarrar a espingarda e tirá-la das mãos do arguido.
Depois, o atacante acedeu, pelas garagens, ao pátio das traseiras, e encarou Major Singh, disparando outros dois tiros. Este foi atingido num ombro e fugiu de novo para dentro de casa, onde conseguiria agarrar a espingarda e tirá-la das mãos do arguido.
Ângelo Guterres, tal como o irmão Fábio, que o acompanhava, respondem por dois homicídios, um consumado e outro tentado. Para Fábio Guterres, que acompanhou Ângelo e lhe forneceu a arma, o MP pede 14 anos de prisão pelos crimes, não lhe imputando motivação racista.
Por seu lado, a defesa de Ângelo Guterres defendeu que este beneficie de “imputabilidade diminuída”, por ter agido sob efeito de drogas. Para Fábio, pediu a absolvição, alegando que este não teve qualquer participação no crime.
Arguido negou racismo
Antes do crime, o principal arguido esteve num café, onde discutiu com outros cidadãos indianos, por, alegadamente, a sua mãe ter sido assediada por outros imigrantes da mesma origem. À saída, sabendo que havia uma casa perto do café onde residiam indianos, decidiu-se a atacá-los.
Ângelo Guterres tentou angariar comparsas para executar o seu plano. Chegou mesmo a apontar a caçadeira à cabeça de um amigo que encontrou na rua, para que fosse consigo e o irmão. O amigo recusou e acabou por lhe retirar a arma momentaneamente, mas Ângelo também responde por crime de ameaça.
Em julgamento, Ângelo Guterres negou ter agido por racismo. Disse que queria apenas ameaçar os moradores daquela casa, para passar uma mensagem a quem importunara a sua mãe. O tiro que feriu Major Sinhg foi acidental, disse.
Retaliação por nacionalidade
Mas a procuradora do MP, em alegações finais, atribuiu ao arguido um outro quadro mental: “Ora, alguém de origem indiana cometeu um ato impróprio e, portanto, vou àquela casa, porque que moram ali indianos, para os matar”, disse, considerando que, “sem grande dificuldade, integra-se aqui a motivação do crime, de ódio racial”.
"O arguido decidiu matar Gurpreet Singh e Major Singh por se tratar de indivíduos de nacionalidade indiana, como retaliação contra indivíduos daquela nacionalidade e para causar temor naquela comunidade", reforçou o MP.
Ângelo Guterres fugiu a guardas
Em julho do ano passado, em prisão preventiva, Ângelo Guterres fugiu após exames que realizou numa clínica em Setúbal. A fuga deu-se no momento em que estava a ser transportado para a carrinha celular de volta para a prisão. Foi capturado pouco depois em casa de familiares. Está atualmente na Prisão do Linhó.