Ministério Público pede penas de prisão superiores a cinco anos para Fernando e Sandra Madureira
O Ministério Público pediu prisão efetiva para Fernando e Sandra Madureira, e mais quatro arguidos no arranque das alegações finais da Operação Pretoriano. A procuradora Susana Catarino disse que o líder dos Super Dragões tinha um “interesse desmedido” em apoiar a perpetuação no poder do então presidente.
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“Deixar os arguidos em liberdade seria passar a mensagem de que podem fazer tudo”, considerou a procuradora pedindo penas de prisão efetiva superiores a cinco anos para Fernando Madureira, Sandra Madureira, Vítor Catão, Hugo Carneiro e Vítor Aleixo e o filho Vitor Bruno, sendo que Fernando e Sandra deverão ser punidos com penas mais graves. Os restantes arguidos deverão ser condenados a penas suspensas, apelou a magistrada.
“É altura de fazer justiça a todos aqueles que não se puderam expressar livremente, não puderam dizer o que pensavam, nem puderam levantar os olhos e que ainda hoje vivem com medo dos arguidos, aqueles que não puderam fazer o seu trabalho e que tiveram de ir ao hospital. Estas pessoas merecem justiça. Os arguidos têm de perceber que não podem fazer o querem”, justificou a procuradora Susana Catarino.
"Clima de medo e de intimidação" perante a "coragem dos sócios"
A magistrada do Ministério Público frisou que, durante o julgamento, os 12 arguidos tentaram desviar as atenções do que se passou na AGE e apresentaram “explicações incoerentes e inusitadas”. Porém, a verdade é que Fernando Madureira elaborou e organizou um plano, que teve a adesão dos demais arguidos, para garantir a aprovação dos estatutos, através de um clima de intimidação e medo.
Além da anterior direção, a aprovação “era obviamente também do interesse dos Super Dragões”. Aliás, o próprio Fernando Madureira revelou que a sua “avultada fonte de rendimento” estava relacionada com a venda de produtos ligados ao fenómeno desportivo. “Havia um interesse desmedido” em assegurar a possibilidade de assegurar financiamento direto pelo clube como previam os novos estatutos. Para esse efeito, “elaborou e organizou um plano a que aderiram os demais arguidos”.
O plano visou “arregimentar pessoas ligadas aos Super Dragões” e introduzi-las na AGE mesmo que não fossem sócios, “com vista a condicionar as deliberações e os sócios que não fossem favoráveis, atirando objetos, agredindo e impedindo que os mesmos falassem”. Enquanto isto “os elementos da mesa mantiveram-se impávidos e serenos e fecharam os olhos ao clima de intimidação e medo”.
A procuradora Susana Catarino elogiou a “coragem dos sócios” que possibilitaram que os acontecimentos do “dia mais negro da história do clube” vissem a luz do dia. O MP elenco o extenso trabalho de investigação que envolveu a audição de testemunhas, imagens de videovigilância, buscas e a análise de centenas de mensagens de texto e áudio. Porém, “só com os testemunhos se pode chegar ao que aconteceu” e que foi “um clima de intimidação e medo”, sendo que alguns sócios até tinham medo de levantar os olhos.
A procuradora destacou ainda várias mensagens que, no seu entender, sustentam este plano e concretização de um clima de intimidação e controlo.
Começaram esta segunda-feira as alegações da Operação Pretoriano. Em primeiro lugar, tomará a palavra o Ministério Público e os dois assistentes, F. C. Porto e Henrique Ramos. Seguem-se depois os advogados dos 12 arguidos, com Fernando e Sandra Madureira à cabeça.
Em causa estão os acontecimentos ocorridos na Assembleia Geral Extraordinária do F. C. Porto, realizada a 13 de novembro de 2023. Segundo a acusação, a claque dos Super Dragões planeou e criou “um clima de intimidação e medo”, com agressões e coação, para que fosse aprovada uma proposta de revisão estatutária, "do interesse da direção" azul e branca, então liderada pelo ex-presidente do clube Pinto da Costa).
Todos os 12 arguidos estão acusados de 31 crimes: 19 de coação agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de arremesso de objetos ou líquidos e três de atentado à liberdade de informação. Um dos arguidos, Hugo Loureiro, foi ainda acusado de posse de arma proibida.