Tinha 39 anos e uma história policial de capítulos mil. Chamava-se Bruno Silva, mas todos o conheciam pela alcunha: “Siga, o rei da Pasteleira”. Esta semana, o trono ficou vazio. Bruno foi encontrado sem vida em casa, no Porto. Tinha saído da cadeia, a sua segunda casa, em janeiro. Consumia drogas desde os 10 anos.
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Bruno foi abandonado à sua sorte por uma família disfuncional e cedo começou a trilhar por caminhos problemáticos. Aos 10 anos já consumia drogas duras. Diz que foi o vício a lançá-lo da pequena delinquência para a criminalidade grave.
A fama de desafiador transbordou das ruas do bairro portuense aos 11 anos, quando roubou um carro-patrulha. “Estava ali à mão”, justificou. A viatura policial foi apenas uma das centenas ou milhares de viaturas que furtou, incluindo um autocarro. Nos carros que roubava, deixava sempre a marca da sua presença. O assento todo elevado e puxado para frente para que o seu franzino e baixo corpo de criança chegasse ao volante e aos pedais.
Apesar da tenra idade, “Siga” demonstrava grande perícia ao volante e uma enorme vontade transgressora. Ainda hoje, moradores da Pasteleira se lembram das rocambolescas fugas em que fazia “gato sapato” da polícia, dando provocantes voltas e voltas ao bairro. Chegou mesmo a dizer que o seu sonho era roubar um avião para depois se despenhar em cima de uma esquadra da PSP.
Um bolo e um par de algemas aos 16 anos
Por ser menor de 16 anos, “Siga” era enviado para centros educativos dos quais, invariavelmente, fugia. Regressava sempre a casa, ao bairro, à Pasteleira. Conta o mito que, apenas duas semanas depois de fazer 16 anos, a polícia foi até casa dele com um bolo de aniversário e um par de algemas. Com ou sem bolo, a verdade é que aos 16 anos e 15 dias, "Siga" foi preso preventivamente e enviado para Custóias.
Foi a primeira de várias estadias atrás das grades. Aliás, as suas saídas em liberdade sempre foram de curta duração. "Siga" não aguentava muito tempo sem acalmar o vício da heroína que o acompanhava desde a adolescência. O crime era a opção mais fácil e rápida para o saciar. Assaltos, furtos, roubos à mão armada... Alinhava em tudo o que lhe pudesse render dinheiro.
“Siga” tinha mais jeito para os carros do que para os crimes, por isso não durava muito tempo até ser apanhado pela polícia e posto novamente atrás das grades. Recentemente, confirmou que, no total, passou cerca de 20 anos, metade da sua vida, na prisão.
Foi libertado pela última vez em janeiro deste ano. Não voltará mais à cadeia. Foi esta semana encontrado morto em casa. A autópsia irá confirmar a causa da morte.